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Estudo com imagens de 1991 revela erupção vulcânica em Vênus

Pesquisadores usaram mais de 100 simulações de computador para chegar à descoberta.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 18 Maio 2023, 11h18 - Publicado em 16 mar 2023, 17h45

Temos muito mais em comum com o nosso vizinho do Sistema Solar do que se imagina. Há quem até chame Vênus e Terra de planetas “gêmeos”: eles têm praticamente o mesmo tamanho e massa; uma estrutura interna parecida, formada por um núcleo de ferro derretido, um manto pastoso e uma crosta sólida; têm campo magnético, mesmo que o de Vênus seja fraco; e até nasceram juntos, há 4,56 bilhões de anos, na mesma “maternidade” galáctica – uma região de um largo disco de gás e poeira.

Os dois têm, sim, diferenças gritantes. Vênus é o planeta mais quente do Sistema Solar, com termômetros batendo na faixa dos 480 ºC e impossibilitando qualquer tipo de vida como a nossa em sua superfície. Sua atmosfera é densa e pesada, composta principalmente por gás carbônico e quase sem vapor de água – as nuvens lá são formadas de ácido sulfúrico.

Mas são pelas semelhanças, principalmente na estrutura do planeta, que os cientistas acreditam que Vênus tenha atividade vulcânica. O que, até agora, era só uma suposição, pode ter ganhado uma confirmação. Cientistas afirmam ter identificado a primeira evidência geológica de atividade vulcânica recente em Vênus.

Analisando conjuntos de imagens de décadas atrás, uma dupla de pesquisadores encontrou registros separados por oito meses que mostram uma fissura vulcânica mudando de forma – eles acreditam que esses achados são prova da atividade.

De 1990 a 1994, a Nasa tinha um satélite orbitando nosso vizinho. A sonda Magellan (nomeada em homenagem ao navegador português Fernão de Magalhães) estava encarregada de registrar a atmosfera de Vênus. Foi isso que ela fez, gerando inúmeras imagens que permitiram aos cientistas da época fazer importantes hipóteses sobre o planeta. Elas mostraram evidências de ventos de superfície, movimentos tectônicos, quilômetros de rios de lava e vulcanismo.

Com o satélite, pesquisadores também descobriram que, mesmo com a temperatura elevada e a pressão atmosférica alta (cerca de 92 vezes a da Terra), a falta de água tornava processos de erosão extremamente lentos – formações na superfície podem ser preservadas por centenas de milhares de anos.

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E isso pôs uma pulga atrás da orelha dos cientistas: as imagens que mostram atividade vulcânica são provas recentes ou são pistas do que aconteceu no passado do planeta?

A dupla de cientistas se deu o trabalho de analisar, manualmente, duplas de imagens tiradas pelo Magellan. Depois de 200 horas de trabalho, eles encontraram duas imagens da mesma região, mas que exibiam mudanças geológicas causadas por uma erupção.

Uma vez na órbita de Vênus, o Magellan mapeava a superfície com fotos tiradas a cada oito meses (um dia em Vênus) e de diferentes ângulos. Isso tornava praticamente impossível automatizar o processo com uma inteligência artificial, por exemplo. Teria que ser no olho.

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“Era como procurar uma agulha no palheiro, sem garantia de que existia uma agulha”, afirma Robert Herrick, um dos participantes do estudo. “Encontrar uma mudança que poderia ser claramente confirmada como real foi uma grande surpresa.”

“Olhar para essas imagens é fundamentalmente muito difícil”, diz Scott Hensley, que trabalhou ao lado de Herrick na descoberta. “Não é como se as pessoas não tivessem procurado por vulcanismo ativo. As pessoas têm procurado por anos.”

Passando um pente fino nas áreas da superfície que acreditavam ser mais prováveis de atividade vulcânica, Herrick e Scott Hansley encontraram uma fissura no sistema vulcânico Maat Mons, onde fica o vulcão mais alto do planeta.

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Entre fevereiro e outubro de 1991, a fissura passou de um buraco circular de 2 quilômetros quadrados para um buraco mais raso e irregular, que cobria uma área quase duas vezes maior. Outras imagens também tinham formações abaixo da fissura que se pareciam com fluxos de lava ativos, mas as imagens não eram claras o suficiente para identificá-los completamente. “Uma interpretação razoável é que um lago de lava se formou ao longo desses oito meses e que o vulcanismo correu morro abaixo”, afirma Herrick.

Porém, só a dedução a partir das imagens não foi suficiente para convencer os pesquisadores de que se tratava de atividade vulcânica recente. Então, eles criaram mais de 100 simulações de computador para averiguar como Maat Mons seria registrada pelo Magellan em diferentes condições e ângulos. Como nenhuma delas se parecia com o que o satélite tinha capturado, eles concluíram que a mudança era, sim, real.

A descoberta valida a suspeita dos cientistas de que havia e está havendo atividade no nosso vizinho; mas acrescenta pouco. Apenas uma amostra não é suficiente para medir a frequência com que erupções acontecem no planeta, por exemplo.

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“Existe a possibilidade de termos observado a única coisa que aconteceu em Vênus nos últimos mil anos e tivemos uma sorte incrível, mas as chances são de que, se vimos algo mudar em um período curto de oito meses, pelo menos erupções vulcânicas ocorreram em Vênus em um tipo de nível semelhante ao vulcanismo na Terra, no período de alguns meses”, afirma Herrick.

Saber que o planeta tem atividade vulcânica já é uma informação valiosa, especialmente pelos futuros planos de agências espaciais de voltar a enviar satélites para a órbita de Vênus – como a EnVision da Agência Espacial Europeia (ESA) e a VERITAS, da Nasa. Elas também usarão radares, só que mais avançados, para mapear a superfície e interior do planeta, para nos mostrar mais sobre a natureza do vulcanismo de Vênus. Agora, cientistas já têm uma ideia do que esperar desses projetos.

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