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Extinção dos dinos pode ter começado antes do asteroide – graças a erupção

Fósseis de concha revelam que um aumento na concentração de CO2 nos oceanos fez os ecossistemas entrarem em colapso antes do pedregulho finalizar o serviço.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 13 dez 2019, 15h53 - Publicado em 13 dez 2019, 11h30

Há 66 milhões de anos, um asteroide com 10 km de diâmetro colide contra a Península de Yucatán, no México, e aniquila cada réptil, planta, peixe etc. em um raio de alguns milhares de quilômetros.

Uma sequência de tsunamis monumentais passa o rodo nas zonas costeiras dos demais continentes, e 15 milhões de toneladas de fuligem – a maioria oriunda de incêndios florestais – impede a luz solar de penetrar na atmosfera por mais de um ano. A temperatura média, na superfície, cai 28 ºC – nos oceanos, 11 ºC. Sem luz, não há fotossíntese. Sem plantas para comer, morrem os animais herbívoros. Sem herbívoros para comer, morrem também os carnívoros (se você quer mais detalhes sobre esta amostra grátis de apocalipse, leia este texto). 

Essa é uma história conhecida – um dos únicos capítulos da história da Terra que faz parte do imaginário popular. Apesar disso, a real parcela de responsabilidade do pedregulho cósmico na extinção da fronteira K-Pg é motivo de debate na geologia. Alguns especialistas defendem que os ecossistemas da Terra, no final do Cretáceo, já haviam entrado em colapso graças a mudanças bem mais graduais no equilíbrio da atmosfera e dos oceanos. E que o impacto foi só a cereja no bolo – não o fator essencial. 

Pesquisadores da Universidade Northwestern, em Illinois (EUA), analisaram conchas fossilizadas de caramujos e mariscos que viveram nessa época (elas foram coletadas na Antártida). E notaram que a composição química desses órgãos de proteção mudou perceptivelmente nos anos que antecedem o impacto – um reflexo do aumento na concentração de gás carbônico na água do mar. O estudo será publicado em janeiro no periódico Geology.

Esse CO2 todo veio dos basaltos de Deccan, no atual território da Índia. Os planaltos acidentados dessa província, que ocupam 500 mil km2 – a mesma área da Espanha –, se formaram graças à deposição de uma camada de lava de 2 km de espessura, cujo acúmulo, não por coincidência, começou há 66,25 milhões de anos – pouco antes da queda do asteroide.

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Uma erupção capaz de cobrir uma Espanha com 2 km de rocha derretida é um fenômeno impensavalmente violento. Com potencial para desencadear uma extinção em massa sozinho, sem uma ajudinha do espaço. “Os dados coletados sugerem que o ambiente já estava mudando antes do choque do asteroide”, afirmou em comunicado Benjamin Linzmeier, um dos autores do estudo. “Tais mudanças parecem relacionadas à erupção que gerou os basaltos de Deccan.”

Andrew Jacobson, que também participou da descoberta, comentou: “A Terra já estava perceptivelmente sob estresse antes da extinção em massa. O impacto do asteroide coincide com uma instabilidade pré-existente no ciclo do carbono. Mas isso não significa que nós podemos responder o que realmente causou a extinção.”

A discussão sobre o real motivo da extinção K-Pg talvez nunca se resolva. A ciência, afinal, é feita de revisar seus próprios preceitos. Mas o recado é claro: ninguém precisa de um asteroide para detonar a Terra. Um aumento brutal na quantidade de COdespejada na atmosfera dá conta do recado. E em gás carbônico o ser humano é especialista.

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