Fenômeno climático raro na Antártida vai trazer onda de frio para o Brasil
Entenda como o calor no Polo Sul afeta a América do Sul – e saiba o que esperar do clima nos próximos dias.
Chegou a hora de tirar os casacos do armário: nos próximos dias, grande parte do Brasil vai sentir os efeitos de uma forte frente fria passando por nosso país. E o que vai deixá-la mais intensa é uma rara onda de calor extremo na Antártida.
Mas qual a relação entre calor no Polo Sul e frio no Brasil? A gente te explica.
Calor (?) no Polo Sul
As temperaturas na Antártida subiram quase 30 °C acima da média de inverno do Polo Sul. Não é como se estivesse calor: as máximas estão entre −40 °C e −20 °C nos últimos dias, mas isso é mais quente do que o frio esperado do inverno antártico.
Por que a Antártida está tendo essas ondas de calor intensas? Maria Clara Sassaki, especialista em Meteorologia da Tempo OK, explica que são vários fatores interligados trabalhando juntos. Primeiro, “as águas dos oceanos estão mais aquecidas do que o normal”, o que causa uma atmosfera mais quente, diz a especialista. No dia 22 de julho, a Terra bateu o recorde de maior temperatura média do ar já registrada, com 17,16 °C.
Além da alta temperatura dos oceanos e da atmosfera, o derretimento das geleiras também desempenha um papel significativo. “A quantidade de cobertura de gelo na Antártida está menor, e isso também contribui para temperaturas mais elevadas”, explica Maria Clara.
Uma onda de calor na Antártida não é exatamente algo anormal – às vezes elas acontecem, tanto por lá como no Polo Norte, onde inclusive isso é mais comum. O problema aqui é a intensidade extrema e a frequência do evento, que tem aumentado nos últimos anos. Nesse caso, claro, temos a influência das mudanças climáticas, que vem aumentando a frequência e a intensidade de eventos climáticos como um todo pelo mundo.
Mas o que isso tem a ver com frio na América do Sul?
Como isso impacta o Brasil
O aquecimento súbito da atmosfera na região da Antártida diminui a circulação de ventos em torno do continente gelado. Eles ficam mais fracos com as temperaturas quentes. Essa circulação de ventos é responsável por manter o frio na área, criando uma barreira para as frentes frias. Sem ela, o frio do Polo Sul escapa para a América do Sul.
“Atrás de uma frente fria vem uma massa de ar polar, e, se essa frente fria consegue avançar pela região da América do Sul, a massa de ar frio atrás desse sistema acaba influenciando o tempo nessas outras regiões”, explicou Maria Clara. Segundo a especialista, essa “geladeira aberta” trará frio no Sul, Sudeste, Centro-Oeste e regiões do Norte e do Nordeste.
Essas frentes frias às vezes chegam até nós sem precisar de ondas de calor na Antártida, por meio de um processo natural chamado de oscilação antártica. A variação de pressão atmosférica na região faz com que, em momentos de menos ou mais pressão na região, as frentes frias possam sair (ou não) do Polo Sul. A atual onda de calor fortalece o que já estava rolando na Antártida.
Como é que vamos sentir isso na pele? A partir de hoje, quinta-feira (8), a frente fria chega ao Sul do Brasil. Entre quinta e sexta (9), ela já vai provocar chuvas em São Paulo, Mato Grosso do Sul e metade da região sul de Minas Gerais. A partir de domingo, ela chega à costa da Bahia, podendo formar nuvens de chuvas nas áreas litorâneas do Nordeste.
As temperaturas vão cair na região Centro-Sul do país e chegarão até a região Norte, levando friagem para Rondônia, Acre e a parte sul do Amazonas. Há possibilidades de geadas moderadas e fortes nos três estados do Sul, geadas fracas em São Paulo e Mato Grosso do Sul e geadas moderadas no sul de Minas Gerais.
A partir de quinta-feira, já há a possibilidade de geada, neve e chuva congelada nos pontos mais altos da Serra Gaúcha. Tudo isso é normal para o inverno no Rio Grande do Sul, mas, nos últimos dois anos, estamos tendo cada vez menos eventos climáticos relacionados a temperaturas mais baixas.
Os invernos de 2023 e 2024 tiveram temperaturas acima do normal, com poucas ondas de frio. Isso é, em grande parte, culpa do El Niño, que deixou a atmosfera mais aquecida entre o ano passado e esse, mas também tem influência das mudanças climáticas. “Até nevascas extremas estão relacionadas com elas”, de acordo com Maria Clara, que explica que tudo de extremo no clima está interligado à mudança de padrão do clima no planeta causada pela ação do homem.