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Gêmeos idênticos na verdade não têm o DNA 100% idêntico

Uma média de 5,2 mutações por bebê nos primeiros estágios do desenvolvimento embrionário muda um pouquinho o genoma das crianças aparentemente iguais, ainda que nem sempre essas mutações afetem o fenótipo de maneira perceptível.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 27 jan 2021, 16h58 - Publicado em 8 jan 2021, 20h28

Gêmeos idênticos (ou monozigóticos) se originam de um único óvulo, que primeiro é fecundado pelo espermatozoide e só então se divide em dois. Por possuírem exatamente a mesma coleção de genes, esses pares de bebês são essenciais para pesquisas na medicina e na psicologia. A razão é simples: se ele são iguais no DNA, quaisquer diferenças entre os dois só podem ser atribuídas a influências externas. 

Por exemplo: pense em uma dupla de gêmeos em que um fuma e o outro não. Se apenas o primeiro desenvolver câncer de pulmão, é mais provável que isso tenha ocorrido exclusivamente por influência de algo posterior o nascimento no caso, o cigarro. Mas, caso os dois enfrentem a doença, aí é uma boa aposta que os genes também tenham culpa no cartório (embora fumar, é claro, nunca faça bem). 

Mas e se gêmeos não fossem exatamente iguais geneticamente? É isso que afirma uma pesquisa publicada nesta quinta-feira (7) no periódico Nature Genetics. De acordo com pesquisadores da farmacêutica islandesa deCODE, os gêmeos idênticos passam por diferentes mutações durante o crescimento embrionário. Ou seja: antes mesmo de nascerem já sofrem alterações aleatórias em em suas sequências de DNA que os tornam, ainda que de forma sutil, diferentes. 

Para a análise, os cientistas investigaram os genes de 387 pares de gêmeos idênticos e dois trios de trigêmeos. Além disso, estudaram o material genético dos pais, cônjuges e filhos dessas crianças. Você vai entender melhor a necessidade de estudar três gerações depois que nós explorarmos um pouco melhor os diferentes tipos de mutação a que os genomas estão sujeitos.

Em nosso organismo, ocorrem mutações germinativas e somáticas. As germinativas são aquelas que interferem nas células que originam os gametas – ou seja, os óvulos e espermatozoides. As somáticas, por sua vez, são as que afetam todas as demais células que formam os tecidos e õrgãos do seu corpo.

A diferença crucial aqui é que uma mutação numa única célula do seu couro cabeludo vai morrer com você, enquanto uma mutação em um único espermatozoide ou óvulo será carregada por todas as células do seu filho. Ou seja: certas mutações são herdáveis, outras não.

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Nas primeiras semanas de formação do embrião, ele é só um punhadinho minúsculo de células. Com o passar da gestação, essas células vão se multiplicando e então assumindo funções em diferentes pedaços do futuro bebê: neurônios, músculos, glóbulos brancos e, é claro células germinativas, que vão fazer parte do sistema reprodutor da criança.

Se uma mutação ocorre no embrião bem no começo, é provável que ela se instale tanto nas células germinativas quanto nas células somáticas do ser humaninho em formação. É claro: ainda não rolou o processo de especialização. Em um embrião que ainda está com 200 ou 300 células, cada uma delas ainda se multiplicará para dar origem a bilhões de outras células. É bem provável que entre eles estejam tanto células somáticas quanto germinativas.

A importância disso é a seguinte: pegue um trio de pessoas: avô, pai e filho. Se o pai e o filho tem uma mutação que o avô não tem, então é sinal de que a mutação apareçeu no comecinho do desenvolvimento do embrião do pai. Assim, ela se espalhou por todo o corpo do pai e também chegou a suas células germinativas, interferindo no espermatozoide que gerou o filho.

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Usando essa lógica, os pesquisadores descobriram que, após a divisão inicial do óvulo nas duas células que darão origem aos dois bebês gêmeos, pode acontecer (e geralmente acontece) deles sofrerem mutações diferentes nos primeiros estágios da gestação. Mutações que vão se espalhar por todo o corpo dos bebês e torná-los ligeiramente diferentes. Mais precisamente, os geneticistas descobriram que gêmeos são diferentes entre si por, em média, 5,2 mutações dessas que acontecem bem no comecinho da gravidez.

Essas mutações não são necessariamente boas ou ruins. São apenas mudanças. Em geral, são neutras: afetam trechos do DNA que não tem função aparente, ou então atingem um gene, mas não são graves o suficiente para alterar sua função. Caso essas mutações ocorram em lugares estratégicos, porém, elas podem mudar qualquer característica dos gêmeos. De sua altura à sua propensão a certas doenças.

Ou seja: gêmeos idênticos não são realmente idênticos. Um alerta importante para todos os estudos que se baseiam na comparação entre monozigóticos para isolar o componente genético da análise. 

 

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