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Gripe aviária já é detectada em animais na Antártida

Vindo da migração de aves da América do Sul, o H5N1 se espalha rapidamente por ilhas antárticas, e representa ‘medo de desastre ecológico’. Entenda.

Por Bela Lobato
Atualizado em 3 set 2024, 14h40 - Publicado em 3 set 2024, 14h05

A Antártida, conhecida por seus ecossistemas únicos, passou muito tempo isolada de doenças infecciosas que afetam a vida selvagem em outras regiões do mundo. No entanto, descobertas recentes indicam que o H5N1, vírus da gripe aviária, rompeu essa barreira, afetando uma variedade de espécies animais.

Em um estudo publicado nesta terça (3) na revista Nature Communications, pesquisadores publicaram os resultados de uma temporada monitorando amostras de diferentes animais antárticos. Entre os afetados estão uma vários tipos de aves, uma variedade de foca e uma de elefante-marinho. Até o momento, os pinguins da região parecem estar relativamente seguros, com poucas mortes e sem evidências de infecções.

A primeira amostra positiva para H5N1 foi encontrada em outubro de 2023, há menos de um ano. Desde então, os cientistas puderam observar o aumento da mortalidade em espécies contaminadas. 

A análise genética do vírus permite concluir que ele se espalhou a partir da América do Sul, provavelmente por meio de aves migratórias. Os autores destacam a velocidade preocupante com que o vírus se disseminou em diferentes espécies e ecossistemas das ilhas Malvinas e Geórgia do Sul.

A Geórgia do Sul fica entre a América do Sul e a Antártida (e, ao contrário das Malvinas, que fica próxima da costa argentina, ela está bem no meio do Atlântico). A ilha possui alta biodiversidade e alta prioridade de conservação, com várias espécies sendo definidas como vulneráveis à incursão de doenças infecciosas. 

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Por afetar toda uma cadeia alimentar, o problema é muito complexo: por exemplo, o vírus causa a morte de mamíferos infectados, e suas carcaças são alimentos de algumas aves. A baixa temperatura favorece a preservação do vírus da gripe aviária na carcaça, de forma que a ave é contaminada após se alimentar também.

Fica ainda mais sério se você considerar que pelo menos 29 espécies de aves de todo o mundo vão à Geórgia do Sul para se reproduzirem, de forma que a disseminação da doença na região pode ter rápidos e amplos impactos geográficos.

“Tanto o arquipélago das Ilhas Malvinas quanto a Geórgia do Sul representam áreas importantes que abrigam uma biodiversidade aviária significativa, e a presença do vírus da influenza nessas ilhas representa um risco significativo para as populações de aves suscetíveis”, escrevem os autores no artigo.

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Segundo os pesquisadores, essa expansão geográfica do H5N1 não representa um risco imediato para as populações humanas que vivem nas ilhas – pelo menos, não maior do que o que já temos, a partir dos casos de infecções de mamíferos em todo o mundo.

Os autores sugerem que pesquisas futuras se concentrem em investigar a circulação do vírus dentro do ecossistema antártico, assim como possíveis medidas preventivas. Eles também enfatizam a necessidade de vigilância contínua e medidas de biossegurança para reduzir o risco representado pelos vírus da gripe aviária para a vida selvagem em áreas remotas, caso da Antártida. 

“Inúmeros outros estudos já destacam a importância do compartilhamento de dados globais em tempo real como uma ferramenta fundamental para compreender o surgimento e a disseminação desses vírus.”, os autores argumentam. “ Várias áreas de conhecimento em todo o mundo continuam a monitorar a situação na Antártida para ver se os temores de um desastre ecológico na região se concretizarão.”

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