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Há uma associação genética entre ser mais inteligente e usar óculos

O estereótipo do nerd, no fim das contas, tem uma pontinha de verdade

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
30 Maio 2018, 16h44

Sabe aquela história de que gente inteligente usa óculos? Pois é: calhou de ser verdade. Uma colaboração internacional com centenas de pesquisadores analisou o DNA de 300 mil indivíduos em busca de genes que influenciassem, de alguma maneira, o desempenho cognitivo. Foram encontrados 148 – alguns dos quais, curiosamente, aumentam em 28% as chances do portador ter problemas de visão. As descobertas foram relatadas em um artigo científico publicado ontem (29) na Nature.

Antes, algumas ressalvas. A primeira: “desempenho cognitivo” é um termo bem genérico, que engloba uma porção de atributos do cérebro, como atenção, velocidade de processamento, aprendizado, memória (tanto de armazenamento quanto de trabalho), fluência verbal e por aí vai. Não é errado chamar essa coleção de atributos de “inteligência”, mas é importante entender que esse é um sentido de inteligência mais amplo que o raciocínio lógico bruto medido pelos testes de QI. Um músico profissional, por exemplo, pode ter uma capacidade de concentração e uma memória de trabalho invejáveis – necessários para ler uma partitura em tempo real – mesmo que ele não tenha ido bem em matemática no Ensino Médio.

A segunda: a massa cinzenta humana é o computador mais complicado da natureza – o que significa que sua construção e operação demandam o trabalho coordenado de um pedaço enorme do seu DNA. Notícias de jornal do tipo “foi encontrado o gene para alguma coisa” às vezes dão a impressão de que o material genético é uma biblioteca perfeitamente organizada, em que há uma prateleira para coisas que causam câncer, uma para montar o fígado, uma para a inteligência, uma para a vontade de viajar e por aí vai. Essa é uma simplificação. O que um gene faz, na verdade, é produzir uma proteína. Essa proteína é o gatilho de uma longa cadeia de reações bioquímicas que é muito difícil de decifrar. É possível associar um gene a uma determinada consequência de sua atividade, mas isso não quer dizer que esse gene “sirva” para isso.

Terceiro: “gene”, na verdade, é o termo errado. Estamos falando de algo com nome mais cabeludo: locus genético. Entenda assim: no seu DNA, há uma espécie de encaixe em que entra, por exemplo, o gene para cor dos olhos. Nesse encaixe dá para pôr tanto um gene para olhos azuis quanto um gene para olhos castanhos. O que o novo estudo descobriu foram 148 encaixes para genes que afetam, de alguma maneira, a inteligência. Conforme o gene que você encaixa em cada um deles, a pessoa resultante pode ficar mais ou menos inteligente.

O que acontece é que, quando você opta por encaixar um ou outro gene em alguns desses espaços, além de afetar o cérebro, eles também afetam outras partes do corpo – como os olhos. Vale notar que miopia, astigmatismo e afins, apesar de terem ido parar nas manchetes, não foram os únicos traços congênitos associados de alguma forma à inteligência. Os pesquisadores também encontram coincidências entre a capacidade cognitiva dos indivíduos e a chance deles terem hipertensão (baixa) ou viverem mais tempo (alta).

Essas relações são meramente estatísticas. São tendências, não regras. Seja como for, dão uma pontinha de razão para o senso comum: CDFs realmente tendem a usar óculos. Só não é porque eles “forçam mais a vista”, que fique bem claro para as vovós de plantão.

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