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Conheça J. Willard Gibbs: o mais brilhante joão-ninguém

Ele tinha um QI monumental, revolucionou a física e antecipou trabalhos de Einstein. O problema é que ninguém ficou sabendo.

Por Álvaro Oppermann, com Bruno Vaiano
Atualizado em 31 jul 2020, 18h46 - Publicado em 30 jun 2006, 22h00

O cientista americano Josiah Willard Gibbs foi um dos sujeitos que, no século 19, assentou as bases da física moderna. Mas ninguém ouviu falar dele. Não é de estranhar: Gibbs talvez tenha sido o cientista mais tímido da história contemporânea.

Gibbs era de uma família com sete gerações de eruditos americanos. Geniozinho precoce, ganhou prêmios de matemática e latim na juventude. Quase nunca arredou pé do lugar em que nasceu, em 1839: morou a vida toda a três quarteirões de distância da Universidade Yale, em Connecticut, EUA, onde lecionava. A não ser por uma breve temporada de estudos na Europa – Paris, Berlim e Heidelberg, entre 1866 e 1869 –, não há registros de que ele tenha saído dessa pequena área.

Ao voltar da Europa, Gibbs assumiu a cadeira de física matemática em Yale. E começou a fazer uma descoberta atrás da outra. Entre 1876 e 1878, escreveu uma série de trabalhos geniais sobre termodinâmica, reunidos num volume ameaçador intitulado Sobre o Equilíbrio de Substâncias Heterogêneas. Mostrou que a entropia (a tendência de todas as coisas ao caos) podia ser descrita estatisticamente e aplicada em todas as escalas, do mundo microscópico dos átomos ao universo como um todo. Também percebeu que quando um sistema atinge a maior entropia possível – a dose máxima de caos –, ele volta ao equilíbrio. É como se seu quarto, de tão bagunçado, tivesse chegado em um ponto em que a chance de você encontrar uma meia sem par é a mesma para todos os pontos do chão. Se está uniforme, está estável.

A sacada era genial, mas o tímido Gibbs decidiu publicá-la numa revista editada pelo seu cunhado, um bibliotecário de Yale, desconhecida até mesmo em Connecticut. Ninguém leu, ninguém ficou sabendo. Quinze anos depois, essas mesmas descobertas seriam feitas por Max Planck, que mais tarde se tornaria o fundador da física quântica. Planck ficou estarrecido ao saber que algumas de suas primeiras descobertas haviam sido feitas originalmente pelo americano.

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A timidez atrapalhava Gibbs até nas finanças. Nos primeiros 10 anos como professor, não recebeu salário nem reclamou – afinal, sua média de alunos por semestre era pouco superior a um. Solteirão, morava com a irmã e o cunhado e não fazia questão de muito dinheiro.

Depois do trabalho sobre entropia, Gibbs inventou o cálculo vetorial (que usou para descrever a órbita de cometas). Em 1901, escreveu um trabalho sobre o comportamento de partículas atômicas. De novo, ninguém leu e, entre 1902 e 1904, as mesmas ideias seriam descobertas por Albert Einstein. Gibbs poderia ter ganhado o Nobel, mas morreu em 1903, quase desconhecido. Em vida, só três cientistas reconheceram seu trabalho, todos europeus: o escocês James Clerk Maxwell, o francês Henri Louis le Chatelier e o alemão Wilhelm Ostwald. Bill Bryson, autor de Uma Breve História de Quase Tudo, o descreveu como “o mais brilhante ilustre desconhecido da história”.

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