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Júpiter nasceu longe de sua órbita atual – e viajou por 700 mil anos

Cientistas estudaram asteroides vizinhos do gigante gasoso e concluíram que ele se formou quatro vezes mais longe do Sol do que está hoje. Só depois migrou.

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 17 Maio 2023, 15h15 - Publicado em 26 mar 2019, 18h15

Júpiter, que esbanja 79 luas, é o maior planeta do Sistema Solar – e, dos gigantes gasosos, é o mais próximo do Sol. Mas não foi sempre assim: ele já foi pequeno e distante, e gravitou muito por aí até ganhar peso e se estabilizar em sua órbita atual. É o que conclui um novo estudo de pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia.

Júpiter, ao que tudo indica, nasceu a uma distância do Sol quatro vezes maior do que aquela que ocupa hoje. Há cerca de 4,5 bilhões de anos, tempo em que o Sistema Solar ainda fumegava recém-saído do forno cósmico, um asteroide de gelo se formou bem longe do calor de nossa estrela-mãe. Quando tinha entre dois e três milhões de anos de vida (um bebê, para os padrões cósmicos), esse corpo se cansou da friagem e foi em busca do calor.

Pelo 700 mil anos seguintes, esse pedregulho – cujo tamanho não superava o da Terra – percorreu uma espiral Sistema Solar adentro, sempre girando em torno do Sol, só que cada vez mais perto dele. Tal migração, dizem os cientistas, foi resultado da influência gravitacional dos gases que circundavam o Sistema Solar naquela época. Esse pedregulho se tornaria o núcleo de Júpiter. 

Ou seja: antes de aglutinar todo o gás que vemos hoje, o gigante gasoso foi um planetinha rochoso e nômade. “Essa é a primeira vez que provamos que Júpiter se formou à grande distância do Sol e então migrou para sua órbita atual”, afirma Simona Pirani, autora principal do artigo, aceito no periódico Astronomy & Astrophysics. Essa migração planetária de gigantes gasosos já havia sido verificada em outros sistemas solares.

No nosso Sistema Solar, a prova de que a migração ocorreu estava em grupo de asteroides chamados troianos. Há milhares desses asteroides, que escoltam Júpiter aonde quer que ele vá. São dois grupos deles, um indo na frente (mais numeroso) e outro correndo atrás (menos numeroso) do imenso planeta.

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Os troianos sempre estiveram envoltos em mistério: nunca ninguém soube explicar por que o grupo da dianteira tinha 50% mais objetos que a turma da retaguarda. A explicação está justamente na migração.

Com auxílio de simulações de computador, Pirani e seus colegas descobriram que a assimetria só pode ser explicada assumindo que Júpiter se formou lá longe, e depois saiu em turnê pelo Sistema Solar. É quase como um rockstar: pelo caminho, sua gravidade foi aglutinando gases e asteroides aos montes, como uma legião de fãs. E graças a maneira específica como ele migrou, a concentração de troianos tornou-se maior na frente.

Acredita-se que o material desses asteroides seja muito parecido com o material que compõe o núcleo de Júpiter — em 2021, a sonda Lucy, da Nasa, será lançada para dar uma olhada de perto em seis troianos e confirmar essa suspeita. É a oportunidade perfeita para entender melhor o passado do gigante gasoso andarilho e do Sistema Solar.

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