Lagosta boxeadora inspira armaduras
Esse bicho tem uma habilidade especial que o torna super-resistente - e agora, os cientistas finalmente descobriram como ela funciona.
Ele não morde nem pica: o negócio do estomatópode é dar um golpe fatal em sua presa, tão forte que ela se despedaça na água. O ataque – um dos mais violentos do mundo animal – só é possível porque o bicho de 15cm se protege atrás de uma carapaça ultrarresistente ao impacto. Sabendo disso, cientistas das universidades da California, de Riverside e de Purdue resolveram estudar o bicho, com o objetivo de desenvolver um novo material que seja praticamente indestrutível e que possa ser usado para fabricar armaduras.
Mas antes, você precisa entender por que o estomatópode é tão especial – e a resposta está nas patas dianteiras. Em vez de garras, como as outras lagostas, o estomatópode tem duas patinhas que parecem luvas de boxe (por isso, ele também é conhecido como lagosta boxeadora). Essas “luvas” ficam escondidas sob a carapaça do animal, sempre prontas para atacar, como se fosse uma arma carregada. Aí, quando uma presa ou um predador se aproxima, o boxeador solta os apêndices com tanta força, mas tanta força, que a energia liberada pelo ataque faz a água ao redor ferver. Só para dar uma ideia, imagine que, se seres humanos conseguissem atirar uma bola de baseball para cima com essa mesma força, a bolinha iria parar no espaço e entraria em órbita. É muita força mesmo.
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Só que (já dizia Newton) toda ação tem uma reação. Por isso, a lagostinha precisa ser também ultra resistente para sobreviver ao impacto que ela mesmo causa – e é justamente essa resistência que os cientistas estão estudando. Nos últimos oito anos, eles analisaram a carapaça do estomatópode, tentando entender como é que um impacto tão grande não fazia mal ao próprio bicho. E descobriram que há duas razões para isso: a primeira é que a casca da lagosta é composta de cálcio, o mesmo material resistente dos ossos humanos. A segunda e mais importante é que esse cálcio todo está organizado de uma forma especial – uma estrutura conhecida como “padrão espinha de peixe”, que absorve o impacto e distribui a força recebida, evitando que o estomatópode se machuque.
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Uma estrutura como essa nunca foi vista antes na natureza, e é por isso que o interesse dos cientistas é tão grande. Baseados nela, os caras reconstruíram o padrão e imprimiram-no em 3D, usando materiais sintéticos. Depois, fizeram testes de impacto e perceberam que, embora o cálcio tivesse um papel importante, era mesmo a forma da estrutura a principal responsável pela proteção do bicho. O próximo passo é continuar estudando e testando a estrutura, para descobrir se ela mantém suas características independentemente de seu tamanho – e se for o caso, podemos ter encontrado uma nova forma de fabricar armaduras para soldados, objetos de proteção para esportistas e qualquer outra coisa que precise ser resistente a impactos.