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Lobisomem? Comportamento de mamíferos tropicais muda de acordo com fases da Lua

Estudo analisou milhões de fotografias de florestas de três continentes e revelou também que luzes artificiais mexem com a rotina dos animais.

Por Bela Lobato
20 out 2024, 18h00

Não faltam mitos, lendas e superstições em que a Lua é um elemento importante das fases supostamente melhores para se cortar o cabelo aos causos de lobisomem que surgem na noite de Lua cheia.

Alguns impactos do satélite, porém, são bem reais: um estudo constatou que a luminosidade variável ao longo do ciclo lunar realmente impacta o comportamento de mamíferos de florestas tropicais (ainda que não os faça morder ninguém).

A pesquisa foi feita com base em fotografias tiradas automaticamente por câmeras de vida selvagem instaladas em florestas tropicais da América Latina, da África e da Ásia. Essas máquinas são acionadas automaticamente quando um bichinho se aproxima. 

Os pesquisadores utilizaram 2,1 milhões de cliques tirados entre 2008 e 2017, abrangendo 86 espécies de mamíferos. Os resultados foram publicados na última quarta-feira (16) na revista Proceedings of the Royal Society B.

A base de dados enorme permitiu dividir os animais entre fases do dia de maior atividade para cada um, e revelou minúcias interessantes: mesmo entre os animais noturnos, existem alguns que gostam da luz do luar e alguns que a evitam. Por isso, a dinâmica do bioma como um todo varia bastante ao longo do mês.

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Das 86 espécies observadas, 12 decididamente evitavam a luz da Lua, enquanto três tinham maior probabilidade de emergir em condições de luar. Esses comportamentos podem estar intimamente ligados aos hábitos alimentares das espécies e ao fato de serem predadoras ou presas. 

Qualquer que seja o animal, sair à noite envolve um conjunto de cálculos estratégicos. “Imagine brincar de esconde-esconde em um quarto escuro e alguém acender uma vela”, disse, em comunicado, Richard Bischof, professor da Universidade Norueguesa de Ciências da Vida (NMBU) e primeiro autor do artigo.

“A luz, mesmo que seja fraca, pode facilitar a sua orientação na sala. Mas se for você quem está se escondendo, de repente será muito mais fácil te detectar.”

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Os resultados apontam que mesmo mudanças sutis na luminosidade da floresta impactam o comportamento dos animais, inclusive os que vivem em arbustos ou áreas de mata fechada que tipicamente são mais escuras.

Para os cientistas, isso gera preocupações sobre o impacto que a luminosidade artificial, produzida pelas intervenções humanas, pode causar nos ecossistemas florestais.

Eles explicam que, como resultado, alguns animais podem perder oportunidades essenciais de obter alimentos ou de se locomoverem e migrarem na floresta. Embora algumas espécies possam se adaptar melhor a noites mais claras, muitas outras e até mesmo comunidades ecológicas inteiras podem sair perdendo.

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Esse é mais um aspecto negativo do desmatamento para a fauna de um lugar: deixar mais luz entrar. Essa mudança de iluminação se soma aos impactos da perda de mata nativa no solo, na água e no ar. “Essa pesquisa tem implicações sobre como a degradação do habitat pode afetar alguns animais tropicais”, disse Beaudrot.

As câmeras fazem parte de uma rede de monitoramento internacional chamada Tropical Ecology & Assessment and Monitoring Network (TEAM, na sigla em inglês). A coleta de imagens e dados nessa rede é padronizada, o que facilita o acesso e as comparações entre biomas.

No Brasil, existem 60 câmeras na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará, e 90 espalhadas em reservas no Amazonas, poucos quilômetros a norte de Manaus.

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