Mapa mostra onde “compostos químicos eternos” contaminam a vida selvagem
Os PFAS são substâncias sintéticas que se acumulam no meio ambiente e aparecem em pelo menos 330 espécies animais. Confira.
Patos na Austrália, caranguejos no Brasil, cervos na Europa, crocodilos na África do Sul e ursos polares no Ártico. O que todos têm em comum? Alguns desses animais estão contaminados com “compostos químicos eternos”, um grupo de substâncias poluentes que aparecem em centenas de espécies selvagens pelo mundo.
O nome deste grupo é PFAS, perfluoroalquis ou perfluoroalquis. São milhares de substâncias sintéticas que combinam átomos de flúor e carbono. Elas aparecem em processos industriais e produtos variados, como tintas, cosméticos, tecidos impermeáveis e panelas antiaderentes. O problema é que tais substâncias não se decompõem facilmente, porque as ligações entre flúor e carbono são muito fortes. O resultado é que os PFAS se acumulam por aí no meio ambiente e nas cadeias alimentares.
Estima-se que 98% dos americanos, por exemplo, carreguem os compostos químicos eternos no sangue. E estudos sugerem que algumas dessas substâncias podem estar relacionadas a disfunções imunológicas, alterações hormonais, aumento do colesterol, infertilidade e câncer.
Essas substâncias nocivas também são comuns entre animais selvagens, como mostra um mapa interativo lançado por um grupo de cientistas que integram o Environmental Working Group (EWG), uma organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos. Eles revisaram 125 estudos que documentam a contaminação na vida selvagem e descobriram que os PFAS estão presentes em pelo menos 330 espécies ao redor do globo.
Você pode acessar o mapa neste link e clicar em uma bolinha colorida para ver os principais detalhes sobre a contaminação identificada no local – quais substâncias foram detectadas em quais animais, junto ao link do respectivo estudo. Os pontos têm cores diferentes para anfíbios, mamíferos, pássaros, peixes, répteis e outros grupos animais, e os triângulos indicam que uma espécie afetada foi classificada como vulnerável ou ameaçada de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
No Brasil, há apenas um pontinho que indica contaminação. Trata-se de um caso estudado em 2021 por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia e outras instituições. Eles investigaram a presença dos químicos eternos no estuário do rio baiano Subaé e descobriram que espécies diversas de peixes, ostras, siris, mexilhões, caranguejos que vivem por lá apresentam resíduos de PFAS.
Isso não quer dizer que só exista contaminação no rio Subaé, claro. Mas que este foi o único estudo brasileiro selecionado para aparecer no mapa. A mesma coisa acontece no restante da América do Sul, na África e em grande parte da Ásia. São lugares que parecem ter menos contaminação, segundo o mapa da EWG – mas provavelmente só aparecem assim por causa da falta de estudos realizados nestas áreas.
É o que dizem os pesquisadores responsáveis: “Testes adicionais provavelmente revelariam uma exposição semelhante [aos compostos químicos] na vida selvagem de locais não destacados neste mapa, uma vez que a poluição do PFAS é uma crise verdadeiramente global.”
Pesquisadores, como os autores de tais estudos, ainda estão desvendando os efeitos da contaminação na vida selvagem. Mas acredita-se que os PFAS possam servir como um estressor extra no contexto em que muitas das espécies avaliadas se encontram – sofrendo com as mudanças climáticas, a perda de habitat, a caça e a pesca.
Um dos estudos que integram o mapa, por exemplo, revelou a presença de PFAS em tartarugas marinhas ameaçadas de extinção no Norte do Pacífico – e mostrou que a presença destas substâncias está relacionada à redução do sucesso na eclosão da espécie.