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Microrganismos da Terra podem sobreviver temporariamente em Marte, diz estudo

Cientistas simularam as condições extremas do planeta vermelho em um experimento na estratosfera terrestre – e descobriram que uma espécie de fungo é especialmente resistente ao ambiente marciano.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 22 fev 2021, 20h55 - Publicado em 22 fev 2021, 19h04

Algumas formas de vida microscópicas da Terra poderiam sobreviver temporariamente em Marte, anunciaram pesquisadores da Nasa em novo estudo publicado nesta segunda-feira (22). A equipe simulou as condições do planeta vermelho em um experimento que aconteceu na estratosfera terrestre, a 38 km da superfície do globo. O estudo verificou que uma espécie de fungo é especialmente resistente às condições adversas da superfície marciana.

Os resultados saíram justamente no momento em que Marte está no centro das atenções do mundo – há poucos dias, o rover Perseverance, da Nasa, pousou no planeta e inclusive já começou a fotografá-lo. A missão faz parte de um esforço crescente das agências especiais pelo mundo de estudar o nosso vizinho, incluindo planos de levar os primeiros humanos para lá em meados da década de 2030.

O novo experimento traz informações importantes nesse sentido. Conduzido por pesquisadores da Nasa e do Centro Aeroespacial Alemão, ele visou descobrir se alguma forma de vida conseguiria sobreviver a uma estadia em Marte, pelo menos temporariamente. À primeira vista, a ideia parece bastante improvável: a superfície do planeta vermelho têm baixíssima pressão e baixíssimas temperaturas, e como sua atmosfera é bem menor do que a da Terra, Marte é constantemente bombardeado por radiação ultravioleta, raios gama, raios X e raios cósmicos vindos do espaço. Um cenário nada convidativo para a vida como conhecemos.

Mas alguns microrganismos terrestres já se mostraram bons candidatos quando o assunto é sobreviver a condições extremas, com destaque para algumas bactérias e fungos. Para testar se eles sobreviveriam ao ambiente marciano, é preciso replicar essas condições em um ambiente controlado – o que não é nada fácil.

 

 

No novo estudo publicado no periódico científico Frontiers in Microbiology, os cientistas conseguiram achar uma saída para o problema: enviaram as amostras dos microrganismos para a estratosfera terrestre, a camada da nossa atmosfera que fica entre 15km e 50km da superfície. No meio dessa camada, durante as horas do dia, esse ambiente apresenta várias características parecidas com as de Marte, como alta intensidade de radiação ultravioleta (UV) e de radiação ionizante (como raios-X), pouco oxigênio e temperaturas e pressões ultrabaixas.

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No dia 23 de setembro de 2019, um balão atmosférico da Nasa foi lançado com milhões de passageiros microscópicos dentro de uma grande caixa, chamada MARSBOX. Antes do voo, as amostras de microrganismos foram coladas em discos especiais de quartzo dentro de pequenas caixas de alumínio. Essas caixinhas foram então preenchidas com uma mistura de gases que imita a composição da atmosfera marciana – que é quase inteiramente composta por dióxido de carbono (CO2).

.NASA
(NASA/Divulgação)

As amostras foram levadas até uma altitude de 38 km e, então, metade delas foi exposta a todas as condições extremas da estratosfera, enquanto a outra metade foi protegida apenas da radiação do ambiente. Com isso, os cientistas conseguiram separar os efeitos da radiação e das outras condições testadas. Por mais de cinco horas, os micróbios foram deixados no ambiente e depois voltaram para a Terra para serem analisados.

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Quatro formas de vida foram escolhidas para o experimento: as bactérias Salinisphaera shabanensis, Buttiauxella sp, Staphylococcus capitis e o fungo Aspergillus niger, causador do “mofo preto” em alguns alimentos. Todos eles são conhecidos pela sua alta resistência. Os dois últimos seres podem ser carregados por humanos, e inclusive já foram detectados na Estação Espacial Internacional (ISS).

Os resultados mostraram que dois dos representantes escolhidos conseguiram sobreviver temporariamente ao experimento: a bactéria S. shabanensis e o fungo A. niger, sendo que esse último foi especialmente resistente aos desafios, incluindo os altos níveis de radiação. Os mecanismos de proteção desses micróbios ainda não são totalmente compreendidos pelos cientistas, mas os pesquisadores acreditam que adaptações únicas em suas estruturas conseguem fazer com que eles sobrevivam a condições extremamente desafiadoras.

NASA
(NASA/Divulgação)
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Esse experimento (e outros do tipo que estão sendo planejados) são importantes por diversos motivos. Um deles é evitar contaminação em futuras missões tripuladas para Marte – afinal, alguns desses microrganismos podem ser transportados por astronautas e prosperar nas condições adversas do nosso vizinho cósmico. Além disso, em determinadas condições, esses seres podem oferecer risco à saúde dos tripulantes.

Micróbios que sobreviverem as condições de Marte também poderiam ser usados propositalmente para ajudar os humanos no futuro, argumenta a equipe. “Alguns microrganismos podem ser de grande valor para a exploração espacial. Eles podem nos ajudar a produzir alimentos e suprimentos materiais de forma independente da Terra, o que será crucial quando estivermos longe de casa”, explicou em comunicado Katharina Siems, do Centro Aeroespacial Alemão e uma das autoras do novo estudo.

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