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Mosquito ‘transgênico’ não é solução contra zika; entenda por que

Por Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h06 - Publicado em 22 fev 2016, 15h45

Em resposta ao avanço do vírus zika, que classifica como “emergência pública internacional”, a Organização Mundial da Saúde recomendou que os países afetados realizem testes com mosquitos geneticamente modificados. No caso, o mosquito OX513A, que foi desenvolvido pela empresa inglesa Oxitec (derivada da Universidade de Oxford). A lógica do processo é a seguinte. Libera-se o OX513A no ambiente, onde ele se reproduz com as fêmeas de Aedes aegypti. Só que os filhotes nascem defeituosos, e não conseguem alcançar a idade adulta nem se reproduzir – o que, com o tempo, vai extinguindo a população de mosquitos.

O OX513A foi aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, e testado em duas cidades brasileiras: Jacobina e Juazeiro, ambas na Bahia. Em ambos os casos, obteve sucesso. Alguns meses após a introdução do mosquito transgênico, a população de Aedes aegypti nessas cidades foi reduzida em mais de 90% (o OX513A foi um elemento a mais na estratégia municipal, que continuou envolvendo mutirões de limpeza e educação da população). O mosquito geneticamente modificado é uma criação sofisticada e engenhosa. Mas há dois poréns.  

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Os mosquitos OX513A liberados na natureza são machos, e não picam os seres humanos (só as fêmeas picam, pois precisam do sangue humano para produzir ovos). As fêmeas geradas durante o processo de criação do OX513A são separadas e mortas pela Oxitec. Mas a empresa admite que até 0,2% das fêmeas transgênicas podem escapar a esse processo, e acabar sendo liberadas junto com os machos. Elas picam – e poderiam se tornar vetores de transmissão de doenças. Inclusive porque a técnica envolve uma quantidade gigantesca de mosquitos, o que nos leva ao segundo ponto.

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Jacobina é uma cidade relativamente pequena, e Juazeiro também. Em áreas maiores, o OX513A não é uma estratégia viável, por um motivo simples: seria preciso liberar enormes quantidades dele. O mosquito modificado é menor e mais fraco que o Aedes aegypti normal, e por isso só consegue se acasalar com as fêmeas ganhando pelo número – é necessário liberar dez OX513A para cada Aedes existente na natureza. Isso significa que para tratar uma área bem pequena, com 10 mil habitantes, é preciso soltar 2 milhões de mosquitos modificados por semana durante a fase inicial de tratamento, que dura de quatro a seis meses. Para tratar uma cidade grande, a quantidade de mosquitos necessários seria astronômica – e seria extremamente difícil, ou impossível, criar e distribuir centenas de milhões de mosquitos transgênicos por semana. 

Update 23/2: A Oxitec informou que está planejando uma fábrica, em Piracicaba, onde poderá produzir 60 milhões de mosquitos machos OX513A por semana. A capacidade da planta, que poderá começar a operar no segundo semestre deste ano, é 30 vezes maior que a atual unidade de produção da empresa (em Campinas). A Oxitec não divulga o investimento nem a quantidade de funcionários da nova fábrica, cuja produção poderia tratar uma cidade de 300 mil habitantes – caso da própria Piracicaba. 

Sobre os OX513A fêmeas, a empresa afirma que elas não representam risco, pois não vivem tempo suficiente para pegar vírus de uma pessoa e passar para outra. Um estudo revelou que em condições ideais, de laboratório, as fêmeas de OX513A conseguem sobreviver por 16,8 dias – contra 21,2 dias das Aedes aegypti naturais. Mas, segundo a Oxitec, as fêmeas transgênicas sobrevivem muito pouco na natureza: apenas 4 dias, em média, o que seria insuficiente para transmitir dengue (cujo ciclo é de aproximadamente dez dias). 

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