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Não parece mas é

Acredite: a sabedoria popular está mais perto da Ciência do que parece

Por Marco Casareto
Atualizado em 31 out 2016, 18h51 - Publicado em 31 ago 2000, 22h00

Em todo lugar-comum há um quê de verdade. Da mesma forma, em todo dito popular há – ou pelo menos pode haver – um pouco de Ciência. A seguir, dez casos em que os cientistas encontraram alguma solidez científica em frases do dia-a-dia que sempre nos pareceram pura história da carochinha.

“Todo fim de semana chove”

Calor de segunda a sexta. Você compra a cerveja, a picanha, a lingüicinha. Enfim: arma um superchurrasco na praia com os amigos. Sábado, não dá outra: amanhece chovendo. Pasme: o fenômeno existe e foi verificado pela Ciência. Dois meteorologistas americanos descobriram que as chuvas ao longo das costas dos Estados Unidos são mais freqüentes durante o fim de semana, quando as pessoas se dirigem em massa da cidade para o mar a fim de gozar de um pouco de sol.

Randall Cerveny e Robert Balling, da Universidade do Arizona, demonstraram, num artigo publicado na revista Nature, que, além das espreguiçadeiras e dos guarda-sóis, as pessoas que saem de férias levam com elas os gases dos escapamentos de seus veículos. Os gases produzem quantidades de partículas que favorecem a condensação de vapor na atmosfera e, conseqüentemente, o aparecimento de nuvens e de chuva.

“Quem enrolou o fio do telefone?”

Sim, os cientistas desvendaram, há pouco, o mistério do enrolamento do fio do telefone. Por que se obstinam em enrolar-se sobre si mesmos? É irritante. E inevitável. É bem provável que você mesmo já tenha acusado, injustamente algum membro da família de fazê-lo de propósito. No entanto, Alain Goriely e Michael Tabor, da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, demonstraram que o fenômeno é totalmente físico: se puxarmos muito o fio, ele se torna instável e fica predisposto a mudar de forma. Quando a tensão cede, volta à configuração que requer menos energia, isto é, duas espirais que giram em sentidos opostos e estão unidas por uma linha reta.

“Que mundo pequeno!”

Sabe aquela sensação engraçada que você tem ao descobrir que tem um amigo em comum com outra pessoa? Os matemáticos Duncan Watts e Steven Strogatz, da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, afirmam que apenas seis pessoas nos separam de qualquer outro ser humano, seja o papa ou um chinês anônimo. Nos anos 60, o psicólogo Stanley Milgram já tinha realizado a seguinte experiência: enviou a 150 pessoas escolhidas ao acaso uma carta dirigida a um agente da Bolsa de Boston. A única regra que os participantes deviam obedecer na experiência era a de passar obrigatoriamente a carta ao amigo que, segundo eles, tivesse mais possibilidades de conhecer o destinatário. Milgram descobriu que, para chegar ao agente de Bolsa, as cartas mudavam de mãos seis vezes em média. Watts e Strogatz, combinando diferentes teorias de gráficos, simulações em computador e a dinâmica dos sistemas não-lineares, demonstraram que a explicação está na existência de uma pequena percentagem de pessoas que opera como uma “ponte” entre grupos geograficamente separados e socialmente diferentes.

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“Rir é o melhor remédio”

Mostre os dentes, amigo: o riso é benéfico. Há tempos que médicos e psicólogos reúnem indícios sobre os efeitos terapêuticos do bom humor no organismo humano. (Na edição passada, a Super publicou a matéria “Sorria!”, tratando desse assunto no detalhe.) Uma equipe de pesquisadores dirigida por Suzanne Segerstrom, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos Estados Unidos, acaba de relacionar pela primeira vez o otimismo com um perceptível reforço das defesas imunológicas. Durante o congresso mundial “Bom Humor e Terapia”, realizado em outubro passado em Basiléia, na Suíça, foi lançada a idéia do alarme melancólico. Eis a luz amarela: nos anos 50, em média, as pessoas dedicavam 18 minutos diários à alegria e ao otimismo. Hoje, apenas seis.

“Canja de galinha não faz mal a ninguém”

Você provavelmente já ouviu sua avó dizer que cama e canja de galinha curam qualquer um. “Especialmente quem está resfriado”, afirma Stephen Rennard, da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos. De acordo com as suas pesquisas, caldo de galinha e legumes – cebola, cenoura, batata e nabo – têm o poder de retardar o movimento dos neutrófilos, isto é, os glóbulos brancos (leucócitos) que, embora ataquem os germes invasores, também são responsáveis por grande parte dos sintomas do resfriado e da gripe. “Se o caldo contiver especiarias, tanto melhor”, diz o pneumologista Irwin Ziment. Ele demonstrou também que a cisteína, um aminoácido que o frango libera durante o cozimento, é quimicamente muito similar à acetilcisteína, um fármaco habitualmente receitado em casos de bronquite.

“Ponha já este dedo no nariz!”

Se você não gosta de galinha, não tem problema. Para curar resfriado, os cientistas descobriram que o método adotado pelas crianças, e usualmente execrado pelos pais – limpar o salão com o dedo – também funciona muito bem. De fato, o nariz é a principal porta de entrada para os germes. Segundo um estudo apresentado no último congresso da Sociedade para a Pesquisa Pediátrica Americana, tirar meleca é eficaz, já que com ela saem também vários agentes de doença. Ou seja: está liberado. Seu filho – e você mesmo, confesse -, não precisam mais fazê-lo com culpa. Indecoroso, mas saudável.

“Melhor um baixinho brincalhão do que um brutamontes bobalhão”

Sorria se você é um homem com menos de 1,60 m de altura. (Sorria muito mais se você é mulher ou namorada de um cara assim.) É que o ditado segundo o qual a altura de um homem é inversamente proporcional ao comprimento do seu pênis – conhecido popularmente como a Regra do L -, pode ter um fundo de verdade. Numa pesquisa publicada na revista Annals of Sex Research, Jerald Bain, andrologista do Hospital Mt. Sinai de Toronto, no Canadá, revelou que, embora fraco demais para dar peso científico às lendas sobre o tamanho do pênis dos anões, há um vínculo, demonstrado estatisticamente, entre a baixa altura e o comprimento do dito-cujo.

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“Rechonchudo como um padre”

Fé engorda? Ao que parece, os crentes estão mais propensos a engordar do que os ateus. É o que sugere um estudo da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos. A pesquisa revela uma correlação estatística entre a solidez da fé e a robustez do corpo. O motivo? Segundo Kenneth Ferraro, autor da pesquisa, os padres e os pastores não levam muito a sério as contrições que deveriam ter no que toca ao pecado da gula. Simples assim.

“Beijei um sapo e encontrei um príncipe”

Na Geórgia e na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, acontece de verdade: os sapos viram príncipes quando são beijados. Era tanta a onda de beijar batráquios que os dois estados acabaram de aprovar uma lei proibindo a prática. (Com certeza, mais de um sapo suspirou aliviado ao saber disso.) O estranho costume tinha sido difundido após o descobrimento de que a pele desses animais contém bufotenina, um potente alucinógeno. Isso, obviamente, explica a história da mocinha que beijou um cururu e descobriu nele o Príncipe Azul. (Com alucinógeno, até eu!)

“Sempre sobra lugar para a sobremesa”

“Mas você não disse que não tinha mais fome?” Se seu filho se entulha de doce após uma refeição copiosa, não é só porque ele é um guloso irremediável, mas também por uma reação neurofisiológica. Al Berg, gastroenterologista americano de Seattle, é um tenaz defensor do conceito de estômago de sobremesa. Segundo ele, trata-se de um fenômeno pelo qual as crianças – e não só elas – recuperam o apetite assim que o doce chega à mesa. Um estudo, realizado junto a um grupo de voluntários, revelou que basta anunciá-la para que a musculatura lisa do estômago relaxe, o que, quase que magicamente, faz aumentar sua capacidade.

Claro que antes de levar tudo isso a sério, você deve lembrar que muitas destas pesquisas ainda não estão amparadas em análises estatísticas sólidas. O que, obviamente, torna as suas conclusões bem duvidosas. A diferença entre hipóteses provadas cientificamente e coincidências apressadamente elevadas à condição de hipóteses é demonstrada numa carta que um cientista da Universidade de Düsseldorf, na Alemanha, enviou para a revista inglesa Nature há algum tempo. O pesquisador há anos tentava explicar a diminuição constante da taxa de natalidade alemã entre 1965 e 1980. Uma vez que o gráfico relativo se adaptava quase à perfeição a um outro, que contabilizava a presença de cegonhas sobre o território alemão, a conclusão do pesquisador afoito não podia ser outra: “Acabo de provar que as crianças são mesmo trazidas pelas cegonhas”.

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