Nasa prevê risco recorde de incêndios na Amazônia
Fogo na floresta: El Niño deixou os oceanos muito quentes e transformou a região em um fósforo gigante.
O inverno vai pegar fogo na Amazônia neste ano. A Nasa divulgou nesta semana um relatório sobre a temporada de queimadas na floreta e as previsões são as mais assustadores desde 2001.
Os cientistas avaliam o risco de fogo comparado aos últimos 15 anos, desde que o estudo começou. E o cenário atual é o pior: o perigo de incêndios severos está acima de 90% para todos os estados brasileiros na região amazônica – o maior índice, no Pará, é de 98%.
Estamos em pleno ciclo do El Niño, fenômeno climático que aquece a temperatura dos oceanos. Oceanos quentes afetam o ciclo das chuvas e foi o que aconteceu nesse verão: a chuva que geralmente atinge a Amazônia se deslocou mais para norte, deixando a região mais seca e mais suscetível ao fogo.
Na temporada com menos chuvas, que começa agora, no inverno, a situação deve se agravar ainda mais. Um Atlântico quente é sempre um mal sinal – não só aumenta a chance de incêndios por aqui, mas potencializa os tornados que atingem a América do Norte. Para piorar, as águas do Pacífico também estão mais quentes que o normal, tudo culpa do El Niño.
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Os cientistas da Nasa e da Universidade da Califórnia em Irving também avaliaram o nível da seca usando o satélite GRACE (Recuperação de gravidade e experimentos do clima, em inglês), que ajudou a estimar quanto de água temos acumulada em rios e aquíferos. Tudo indica que a seca vai ser ainda pior que em 2005 e 2010, durante outras traquinagens de El Niño.
Como explica o relatório da Nasa, sem água suficiente, as árvores reduzem a sua evapotranspiração. Diminui, então a umidade na atmosfera – e aí tanto a vegetação quanto a camada de resíduos orgânicos no chão fica ressecada. Daí é um pulo para tudo pegar fogo.
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A expectativa é que a situação fique parecida com a de 1998, quando o fenômeno causou incêndios devastadores em Roraima.
Mas não dá para colocar tudo na conta do El Niño: ele aumenta, sim, o risco de incêndios devastadores. Ainda assim, a enorme maioria das queimadas na região não é natural: é iniciada pelos agricultores que queimam a floresta para limpar campos para cultivo e pecuária. O problema é que, juntando essa prática com a vegetação ressecada, esses fogos ficam quase impossíveis de controlar.
A esperança dos pesquisadores é uma mudança que venha do norte. Caso o Atlântico Norte comece a ter temperaturas mais baixas, as chuvas podem se tornar mais abundantes e jogar um feliz balde de água gelada na previsão da Nasa.