O caçador de galáxias
Duas novidades surpreendentes: o Universo está se expandindo e a Via Láctea é apenas uma entre bilhões de galáxias.

Nenhum astrônomo teve tanta influência na construção da idéia moderna do Cosmo quanto o americano Edwin Hubble (1889-1953). Ele mostrou, em 1923, que o Universo é muito mais vasto do que se imaginava e que a Via Láctea, a galáxia onde se situam a Terra e o Sistema Solar, é apenas uma entre muitas outras. No dia 23 de novembro de 1924, o cientista publicava no jornal The New York Times que Andrômeda era, na verdade, uma outra galáxia. Até então, acreditava-se que o borrão no céu estava dentro da Via Láctea.
A descoberta só foi possível graças a uma técnica desenvolvida pela astrônoma Henrietta Leavitt, que morreu três anos antes do anúncio de Hubble. Ela estudou estrelas chamadas cefeidas variáveis, que pulsam a uma frequência fixa (que pode ser de quatro ou cem dias, por exemplo). Ela descobriu que quanto mais rápido a estrela pulsa, mais próxima ela está da Terra.
Esse conceito foi usado por astrônomos como uma “régua” para medir distâncias no Universo. Por meio dessa técnica, Hubble percebeu que Andrômeda estava longe demais para pertencer a nossa galáxia.
No início de sua carreira, Edwin Hubble enfrentou um rival – o astrônomo Harlow Shapley (1885-1972). Shapley era diretor do observatório onde Leavitt trabalhava, e tinha se tornado famoso ao usar as cefeidas como referência para medir o tamanho da Via Láctea, tida na época como a única galáxia do Universo. Ele descartou a sugestão de Hubble de que a Nebulosa de Andrômeda poderia ser formada de estrelas, e não apenas de poeira, como se imaginava. Para tirar a dúvida, Hubble empregou o mesmo método de seu rival e mostrou, em 1923, que Andrômeda era de fato outra galáxia, situada a 200 000 anos-luz da Terra. “Eu não sei se fico alegre ou triste com a sua descoberta”, curvou-se Shapley, anos mais tarde, em uma carta ao vencedor da disputa. “Talvez as duas coisas.”
Hubble continuou apontando o telescópio para as galáxias e, em 1929, percebeu algo que o deixou intrigado. A luz das estrelas mais distantes da Terra, quando vista através de um prisma, mostrava-se mais vermelha do que seria de se esperar. Isso significava que os astros estavam se afastando de nós (se estivessem se aproximando, a cor predominante seria o azul). Medindo as suas distâncias, Hubble descobriu que, quanto mais longe uma galáxia se encontra da Terra, maior é a velocidade do seu afastamento. O Universo, portanto, não é estático, como se pensava até então, mas está em permanente expansão – como uma bexiga de borracha que alguém vai soprando sem parar.
A pergunta seguinte era inevitável. Se as galáxias estão cada vez mais longe umas da outras, qual é a força que impulsiona o seu movimento? Só poderia ser a tal explosão sugerida, em 1927, pelo cosmologista belga Georges Lamaître (1894-1966), precursor da teoria do Big Bang. Graças a Hubble, essa explicação sobre a origem do Universo se tornava convincente.
Para o astrônomo americano, a proeza teve um sabor adicional. Entre os defensores da velha idéia do Universo estático estava Albert Einstein. O físico alemão chegou, embora sem muita convicção, a acrescentar às suas equações sobre a Relatividade Geral um ingrediente chamado constante cosmológica, que literalmente freava o Universo. Einstein admitiu o erro e, em 1931, durante uma visita à Califórnia, fez questão de subir ao Monte Wilson, em Los Angeles, para conhecer o telescópio onde Hubble trabalhava e cumprimentá-lo pessoalmente.
A mais forte evidência de que ocorreu o Big Bang foi obtida em 1992, pelo satélite americano Cobe. Ele captou radiação gerada pela explosão e distribuída de modo mais ou menos uniforme pelo Universo. Mostrou também que há diferenças de temperatura no céu – pequenas, mas reveladoras. É nas áreas mais quentes, registradas em vermelho na imagem do satélite, que a matéria espalhada pelo Big Bang teria se aglomerado, formando as sementes das galáxias.
De acordo com a teoria mais aceita sobre a origem do Universo, ele começou com o Big Bang e se expandirá para sempre, a uma velocidade cada vez maior.
Há 13 bilhões de anos
1. Big Bang, a explosão que deu origem ao Universo.
1000 anos após o Big Bang
2. Passa a existir, no Universo, mais matéria do que radiação.
Há 12 bilhões de anos
3. Início da formação das galáxias. Surge o Sistema Solar.
Há 8 bilhões de anos
4. Formação da Via Láctea. As galáxias começam a se afastar umas das outras.
Momento atual
5. As galáxias continuam se distanciando umas das outras, mas seu fim está distante. O Universo ainda está na sua adolescência.
Daqui 100 bilhões de anos
6. A maioria das estrelas está se apagando. Algumas viram buracos negros. Outras restam como corpos inertes e gelados.
Daqui 103 trilhões de bilhões de anos
7. A expansão prossegue, rumo ao infinito. As últimas estrelas morrem e os buracos negros também. No final, muitos trilhões de anos depois, só restará uma finíssima poeira de partículas, menores do que um átomo.