O homem atômico: a história de Harold McCluskey
Ele trabalhava em uma usina de produção de plutônio. Estava há cinco meses parado. Ao voltar, cometeu um erro - que causou um grande acidente.
NNaquele 30 de agosto de 1976, o americano Harold McCluskey comemorou seu aniversário de casamento (ele e a esposa, Ella, estavam juntos há 40 anos). Daí pegou o carro e foi para o trabalho: Harold era técnico de laboratório na usina nuclear de Hanford, em Washington.
Não uma usina qualquer: ela foi inaugurada em 1943, em pleno Projeto Manhattan (que levou à criação da bomba atômica), e seus reatores foram construídos para fazer plutônio, usado nos artefatos nucleares dos EUA.
Nos anos 1970, os americanos já haviam juntado um enorme arsenal, e agora a usina fazia reprocessamento de material usado: Harold, cujo turno era o da madrugada, era responsável pela extração de amerício-241, um subproduto do plutônio que é usado em processos industriais e detectores de fumaça.
Seria apenas mais uma segunda-feira qualquer, exceto por um detalhe: a usina havia passado cinco meses fechada, devido a uma greve, e finalmente retomava as atividades naquele dia. Para extrair o amerício-241, Harold pegava a matéria-prima (uma resina contendo esse material) e aplicava nela um reagente, ácido nítrico.
Isso era feito por meio de uma “glove box”: uma caixa de laboratório hermeticamente selada, com duas luvas bem grossas costuradas. Ocorre que, devido à greve, a resina com amerício ficou cinco meses dentro dessa caixa. Ela foi se decompondo, e liberando hidrogênio. Era um problema conhecido: a resina se tornava perigosa a partir de três meses dentro da caixa.
Mas ele resolveu prosseguir. Assim que despejou o ácido nítrico, houve uma reação química violenta: Harold ouviu um assobio, e a caixa ficou cheia de uma fumaça marrom. Teve tempo de se levantar, mas estava a apenas 1,5 metro de distância quando a glove box explodiu.
Harold foi atingido por cacos de vidro, jatos de ácido nítrico e, o pior, uma rajada de fragmentos de amerício-241. Também inalou a fumaça, que continha o material. Foi socorrido e colocado em isolamento, num alojamento dentro da usina (que foi novamente fechada).
Harold havia se tornado radioativo. Ele era um risco para as outras pessoas. Os únicos que podiam se aproximar eram as enfermeiras, que davam banho nele duas vezes por dia para tentar remover os pedacinhos de amerício – as toalhas e os lençóis, altamente contaminados, eram tratados como lixo nuclear.
O pior é que, como havia inalado amerício, Harold também expirava radiação. Ele recebeu 600 injeções de zinco DTPA, uma substância que “grudava” nas partículas de amerício – com isso, foi conseguindo excretar o material radioativo aos poucos, através da urina.
O caso foi parar na imprensa, que o apelidou de “homem atômico”. Em fevereiro de 1977, ele recebeu permissão para deixar o isolamento. Processou o governo dos EUA, dono da usina, e recebeu o equivalente a US$ 6,5 milhões em valores atuais. Não desenvolveu câncer ou outras consequências da exposição à radiação. Morreu em 1987, aos 75 anos, de infarto. A autópsia revelou que ele ainda tinha amerício no fígado, nos ossos e na medula.