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O que é o “vale da estranheza”?

Essa hipótese diz que, quando algo é muito parecido com um humano de verdade, isso nos causa estranhamento. Um estudo usou quatro robôs para conferir.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 15 dez 2022, 18h41 - Publicado em 15 dez 2022, 18h10

Apresentado pela primeira vez em 1970 pelo professor de robótica Masahiro Mori, o “vale da estranheza” é um conceito aplicado em diversos campos, como robótica, computação gráfica, design e estética. Também conhecido pelo nome em inglês, “uncanny valley”, trata-se da hipótese de que, quanto mais parecido com um humano um robô seja, mais positiva e empática é a resposta emocional dos observadores.

Contudo, ao atingir certo ponto na escala de similaridade, a empatia se torna uma forte repulsa. O ponto de máxima estranheza seria quando um objeto é muito semelhante a uma pessoa, mas ainda fica no quase idêntico – exemplificado no gráfico. Conforme a aparência do robô continua a se aproximar cada vez mais de um ser humano, a resposta emocional fica positiva novamente, chegando perto dos níveis de empatia entre humanos.

Gráfico de níveis de características robóticas.
O nome “vale da estranheza” vem justamente do vale formado no gráfico. Nessa região, nossa percepção de robôs “quase humanos” é extremamente negativa (Smurrayinchester/Wikimedia Commons)

Um estudo resolveu testar novamente a hipótese do vale da estranheza e como respondemos emocionalmente a entidades “semi-humanas”. Os pesquisadores colocaram 77 participantes para interagir separadamente com quatro robôs humanoides diferentes, que tinham características diferentes.

A primeira era Maya, uma assistente virtual que consistia apenas de uma voz humana; não muito diferente da Alexa ou da Siri. A segunda era Nao, um robô com braços e pernas articulados, do tamanho de uma criança; mas sem pele, cabelo ou outras feições humanas. Em terceiro, Nicole, um programa de computador que mostrava, junto da voz, uma aparência humana virtual. Por último, os participantes conheceram Nadine, um robô humanoide completo, com pele, mãos, tamanho real e traços que imitavam os humanos.

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Para avaliar a afinidade dos indivíduos com os robôs, cada um preencheu um questionário. Além disso, os pesquisadores também gravaram a interação entres os participantes e os robôs, para estudar as pistas e sinais de comportamento não verbais que contavam mais do estado emocional dos voluntários.

Os resultados dos questionários e análises revelaram relações curiosas. O robô mais temido foi, para a surpresa dos cientistas, Maya, a assistente de voz; e, em segundo lugar, Nadine. A última também foi eleita como a mais antropomórfica, animada, inteligente e segura das opções. A única característica em que ela não se mostrou superior foi simpatia, em que empatou com Nao.

Enquanto Nao e Nicole tiveram o mesmo desempenho em antropomorfismo, Nao era significativamente mais agradável. Segundo os pesquisadores, isso indica que um corpo físico pode provocar um maior grau de simpatia, o que deixou Nicole e Maya um pouco na desvantagem.

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Em geral, os robôs provocavam diferentes emoções, mas todos foram apreciados pelos participantes e não houve correlação entre o antropomorfismo e as emoções negativas que provocaram. “Portanto, este estudo não observou ou comprovou a hipótese do vale da estranheza”, escrevem os pesquisadores no artigo. “Isso pode ser devido às características desses robôs específicos (uma vez que foram concebidos e construídos de forma cuidadosa e coerente) ou às especificidades do mundo de hoje, em que robôs humanoides e não humanoides estão se tornando cada vez mais comuns, e as pessoas estão acostumadas a eles.”

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