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O traseiro deste bichinho aquático se solta – e vai procurar sexo sozinho

Os anelídeos da família Syllidae criam bolsas de gametas na extremidade do corpo – que desenvolvem olhos e saem nadando para procriar na superfície.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 set 2019, 19h54 - Publicado em 27 set 2019, 19h45

Minha professora de biologia do colégio dava aulas… interessantes. Mas verdade seja dita: nem o Carl Sagan seria capaz de tornar o filo dos anelídeos interessante. Além das minhocas de jardim – o último livro de Darwin foi todinho sobre elas –, o tal filo também contém 11 mil espécies de poliquetas, animais minúsculos que vivem na água e são bem coloridos. O que os poliquetas e as minhocas têm em comum, aos olhos de um leigo, é o corpo segmentado em “rodelas”. Para os taxonomistas, porém, as semelhanças são bem mais evidentes.

Agora, descobri que os poliquetas mereciam mais do que uma nota de rodapé nos livros didáticos. Porque eles fazem sexo de um jeito fascinante. Alguns deles, pelo menos: os da família Syllidae. Aqui está uma foto bacana de um.

Embora passem a vida se rastejando no leito dos oceanos – geralmente em águas rasas, nas redondezas dos corais –, muitos poliquetas ainda precisam ir até a superfície da água para se reproduzir. Famílias diferentes de poliquetas deram soluções diferentes para se deslocar até o motel lá em cima, e o truque adotado pela família Syllidae é o mais divertido.

Em vez de ir pessoalmente, eles mandam bolsinhas de espermatozoides e óvulos para o alto. Como se fosse um delivery de gametas. E aí a orgia ocorre sem a presença dos casais. A bolsa estoura, os gametas são liberados e se unem aleatoriamente.

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Agora com mais detalhes: um poliqueta Syllidae, como uma minhoca terrestre comum, é uma coisa comprida e dividida em segmentos. A cada trinta dias, aproximadamente, os últimos dez ou doze segmentos do corpo – isto é, o traseiro, ou bumbum, como queira chamar – se tornam uma bolsa de gametas independente, que inclusive tem quatro olhos rudimentares. Sim, quatro. Afinal, esse segmento vai se destacar do resto do animal e seguir seu caminho sozinho. Ele precisa enxergar.

Esse segmento independente se chama estolho. De acordo com um artigo científico de 1981 da Universidade do Havaí, é simples observar sua formação: na espécie Typosyllis pulchra, a parte posterior do corpo das fêmeas se torna azul ou roxa com o acúmulo de óvulos, e a dos machos fica branca ou rosa claro pelo acúmulo de espermatozoides. A cada mês, um verme produz três ou quatro estolhos.

Moral da história? Quando se sentir triste, pense que pelo menos te resta o Tinder. E quando você vai transar sua genitália não sai nadando para longe de você. É, talvez não seja muito consolo.

 

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