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Orangotango é o primeiro animal observado tratando feridas com planta medicinal

Os cientistas gravaram por acaso esse momento – que é o único episódio de uso de plantas medicinais no reino selvagem que se tem notícia. Veja vídeo.

Por Caio César Pereira
Atualizado em 2 Maio 2024, 19h19 - Publicado em 2 Maio 2024, 19h15

Pesquisadores do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, na Alemanha, e da Universidade Nacional de Jakarta, na Indonésia, descobriram um comportamento até então inédito no reino animal: um orangotango utilizando uma planta medicinal para tratar um machucado.

Os chimpanzés também buscam tratar suas feridas aplicando uma substância, mas utilizam insetos esmagados em vez de plantas. Ou seja: o orangotango é apenas a terceira espécie conhecida a utilizar algum tipo de substância para tratar uma ferida,  e a segunda a recorrer às plantas como ferramentas medicinais (a primeira foi, obviamente, os humanos).

O estudo foi publicado na revista Scientific Reports, e é o resultado de uma observação e monitoramento dos primatas das florestas tropicais da Indonésia que vem sendo realizada já há alguns anos.

Os pesquisadores observaram o comportamento em Rakus, um orangotango de sumatra macho (Pongo abelii), provavelmente na casa dos seus 30 anos, e que havia sido avistado pela primeira vez lá em 2009. Em junho de 2022, os pesquisadores monitoravam cerca de 150 orangotangos no parque Parque Nacional Gunung Leuser, Indonésia, quando viram Rakus apresentar um comportamento curioso.

Eles viram que o animal estava com uma ferida aberta na parte superior de sua bochecha direita, oriunda da briga de Rakus com outro macho. Depois, eles conseguiram observar o animal coletar e preparar um tipo de pasta das folhas de uma planta trepadeira chamada localmente de akar kuning (Fibraurea tinctoria), conhecida pelo sua capacidade medicinal de tratar feridas, aliviar a dor, reduzir a inflamação e por ter propriedades antibacterianas e antifúngicas. 

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Rakus mastigou as folhas e espalhou a pasta com os dedos apenas em sua ferida, até cobrir totalmente a lesão com polpa de folhas. Como ele não aplicou a pasta em mais nenhum outro lugar do corpo, os pesquisadores acreditam que esse tratamento foi algo intencional.

“Este caso é muito especial porque se trata de uma planta cicatrizante muito potente”, conta a Scientific American Isabelle Laumer, primatologista do Instituto Max Planck de Comportamento Animal e coautora da nova pesquisa. “Não conseguimos observar nenhum sinal de infecção na ferida, e a cicatrização foi muito rápida. Após alguns dias, a ferida estava completamente fechada.”

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Os pesquisadores não sabem ainda qual é a exata origem do comportamento. Ainda restam dúvidas se Rakus descobriu essa técnica de tratamento de feridas por acaso, enquanto comia a planta, ou se foi algo aprendido e passado de um animal para outro.

Como os orangotangos machos costumam se dispersar dos grupos que nascem após chegar à idade adulta, os pesquisadores não sabem se isso foi algo ensinado a ele enquanto esteve em seu grupo. 

De qualquer forma, é uma descoberta e tanto. Chimpanzés também já foram observados aplicando insetos para tratar feridas, mas, segundo os pesquisadores, são exemplos difíceis de serem documentados de forma sistemática. O comportamento de Rakus, o orangotango, também é raro, sendo o único caso conhecido até o momento.

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Caso a utilização de plantas para tratamento de feridas seja um comportamento comum entre outros orangotangos e até mesmo outros primatas, os pesquisadores acreditam que possa indicar uma origem primitiva da prática médica humana ainda no ancestral comum primata

Por enquanto, entretanto, os pesquisadores acreditam que é necessário continuar o trabalho de observação por mais algum tempo, destacando a importância do monitoramento de longo prazo para se tirar conclusões mais sólidas.

“Só observamos [os orangotangos] por uma pequena parte da vida de cada indivíduo”, diz Laumer. “Meu projeto está em andamento há 30 anos, e não tínhamos visto isso [até então]. Esse episódio apenas mostra a importância desse tipo de monitoramento a longo prazo para revelar comportamentos raros.”

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