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Os lagartos que esguicham sangue dos olhos para se defender

Oito espécies do gênero Phrynosoma, nativas da América da Norte, usam jatos do líquido vital para afugentar predadores insistentes.

Por Bela Lobato
Atualizado em 31 jul 2024, 18h24 - Publicado em 31 jul 2024, 18h00

Muitos animais têm estratégias para se defenderem de predadores. Os repteis não cansam de nos dar exemplos exóticos, mas os lagartos-de-chifres do gênero Phrynosoma superam os colegas em bizarrice. Apesar de terem apenas 9 cm de comprimento, são equipados com um impressionante arsenal, que culmina com um esguicho de sangue pelos olhos.

Nativos de regiões desérticas da América do Norte, esses animais precisam comer centenas de formigas por dia, e por isso ficam expostos a regiões abertas por longos períodos. Para se protegerem, são excelentes em camuflagem: seu formato redondo e pontiagudo se mistura ao solo, e as suas cores podem variar entre tons de laranja, marrom, amarelo e cinza, dependendo de seu habitat.

Quando ameaçados, sua primeira defesa é permanecer imóvel. Se forem abordados muito de perto, eles tentam confundir a visão do predador, correndo e parando abruptamente. Se isso não funcionar, eles podem inchar o corpo para parecerem mais chifrudos e maiores.

Se, depois de todas essas estratégias, o animal ainda estiver ameaçado, ele ativa o plano S: esguicha sangue pelos olhos. Para isso, eles restringem o fluxo sanguíneo que sai da cabeça, aumentando a pressão sanguínea até romper pequenos vasos ao redor das pálpebras. O sangue confunde os predadores e tem um gosto desagradável para caninos e felinos (aves não são afetadas).

É possível que a dieta rica em formigas venenosas seja um fator para esse gosto. Entretanto, a origem e a composição das substâncias envolvidas ainda são desconhecidas. Esses pequenos podem esguichar a 1,5 m de distância – mais de 16 vezes o comprimento de seu corpo. 

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Parece dramático, mas a estratégia não é prejudicial ao lagarto: ele pode repeti-la várias vezes em curtos períodos de tempo, e às vezes usam o mecanismo para limpar a superfície dos olhos. 

Assim como todos os lagartos, os lagartos de chifre possuem uma terceira pálpebra, chamada membrana nictitante, que funciona como um limpador de para-brisa dos globos oculares. Depois do sangramento, ela passa com um rodo, empurrando os detritos para o canto posterior do olho, onde formarão remelas e serão eliminados.

Mas você pode estar se perguntando: por que os predadores, carnívoros vorazes, não gostam do sangue? Afinal, eles não iriam comer o lagarto depois? 

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A diferença parece estar na proporção: uma coisa é molho shoyu no seu sushi, e outra completamente diferente é um copo de molho shoyu puro espirrado na sua boca do nada.

A estratégia de auto-hemorragia não é exclusiva desse gênero de lagartos, e também pode ser encontrada em insetos como besouros, gafanhotos e mariposas, bem como em algumas cobras.

Nas últimas décadas, as espécies de lagartos de chifre estão ameaçadas pelos desequilíbrios ecológicos de seus habitats. A presença de espécies invasoras de formigas sul-americanas, a destruição dos desertos e o tráfico desses animais para serem animais de estimação exóticos são algumas das ameaças.

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Mas o importante é que destruí-los não vai ser fácil: eles já estão com sangue nos olhos.

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