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Parece que o déjà vu não funciona do jeito que você já tinha visto antes

Cientistas há anos tentam desvendar de onde vem a sensação de "já vi isso antes". Agora, um grupo de pesquisadores finalmente observou o funcionamento do fenômeno: ele age como um antivírus para o seu cérebro

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 11 mar 2024, 11h20 - Publicado em 17 ago 2016, 20h00

Você pode não saber nada de francês além de bonjour, mas essa expressão com certeza já ouviu. Déjà vu é a sensação de que a cena que você está vivenciando — um lugar, uma conversa — já aconteceu.

Talvez você tenha essa impressão ao ler esse texto, por exemplo — os cientistas tentam há anos desvendar o fenômeno e já falamos de algumas teorias elaboradas para explicá-lo. Mas um novo estudo, apresentado na Conferência Internacional da Memória, acredita que encontrou uma resposta definitiva para o que acontece no cérebro durante a sensação.

O que todos os pesquisadores concordam é que o déjà vu acontece com mais frequência entre os jovens e, especialmente, nos que viajam mais. Além disso, ele tende a aparecer em momentos de estresse.

A maioria das pesquisas anteriores também associa o déjà vu à área do cérebro responsável pela memória. É o lobo temporal, onde fica o hipocampo, região que processa e armazena nossas lembranças. Uma das antigas explicações era a superexcitação dos neurônios no hipocampo, causando lembranças falsas. Outra colocava a culpa numa disfunção do giro dentado.

Já o novo experimento, realizado pela Universidade de St. Andrews, concluiu que o hipocampo não tem nada a ver com a história — e que um déjà vu também não é exatamente uma lembrança falsa.

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O estudo foi pioneiro em observar o cérebro por meio de ressonância magnética no momento exato em que o fenômeno acontecia. Para conseguir fazer o exame, os cientistas desencadearam vários déjà vu com jogos de palavras. Eles mostravam uma série de palavras sobre um mesmo tema — travesseiro, cama, noite. Depois, perguntavam rapidamente: 1) se o participante tinha ouvido alguma palavra com S; 2) se havia ouvido a palavra “sono”. O resultado é que, enquanto o voluntário estava certo de que não tinha ouvido nada com S, ainda sentia que a palavra “sono” tinha aparecido — e aí relatavam um déjà vu.

Mas o mais surpreendente foi o resultado da ressonância: ela mostrava que a região do hipocampo não ficava ativa durante o déjà vu. Quem mais trabalhava era o lobo frontal, geralmente associado com a tomada de decisões.

Os cientistas acreditam que o lobo frontal funciona como um antivírus. Ele faz uma varredura nas memórias, checando se existe alguma inconsistência, para evitar que você armazene um “arquivo corrompido”. Mas do mesmo jeito que os Avast da vida dão alertas quando encontram problemas, o déjà vu seria um aviso de que um problema foi encontrado, isolado e resolvido.

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O principal autor do estudo, Akira O’Connor, acha que é mais plausível que o déjà vu seja um alarme consciente de uma discrepância sendo corrigida do que um erro de memória. Isso porque pessoas mais velhas têm pouquíssimos déjà vu — mas cada vez mais confusões nas próprias lembranças.

“Se não é um erro, mas a prevenção de um erro, faz muito mais sentido”, ele escreveu em seu site, onde divulgou a pesquisa. Quanto mais velhos ficamos, menos o cérebro consegue fazer essa manutenção — e aí é erro demais para o seu antivírus interno dar conta.

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