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Pedaços de diamante em meteorito são restos de planeta perdido

E põe perdido nisso: foi em parte de seus destroços que se formaram os planetas atuais do Sistema Solar, há bilhões de anos

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 abr 2018, 12h12 - Publicado em 18 abr 2018, 14h58

Em outubro de 2008, um meteoro entrou rasgando na atmosfera terrestre e explodiu sobre a Núbia – nome da porção mais oriental do deserto do Saara, entre o Sudão e o Egito. Batizado de “Almahata Sitta”, o pedregulho errante de código 2008 TC3 fez chover 480 fragmentos – entre eles, diamantes – sobre a areia, que foram recolhidos rapidamente por pesquisadores da Universidade de Cartum. A coleta rendeu, ao todo, 4 kg de destroços cósmicos.

Uma década depois, uma análise dos diamantes recém-publicada na Nature revelou que eles só podem ter se formado nas condições de pressão e temperatura presentes no interior um planeta rochoso de tamanho similar ao de Mercúrio ou Marte – e não graças a um choque violento entre dois corpos no espaço aberto, por exemplo (entre outros fenômenos que têm potencial para gerar esses rígidos cristais de carbono). A questão é: que planeta?

Já se sabe há algum tempo, por meio de simulações de computador, que os primeiros milhões de anos do Sistema Solar foram marcados pela formação de vários planetas rochosos provisórios. Foi o material que os compunha que, após encontros e desencontros, acabou finalmente se estabilizando na forma das bolas telúricas que conhecemos hoje: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, além do cinturão de asteroides que marca a fronteira com a órbita de Júpiter.

Não é difícil ligar os pontos e concluir que o meteoro 2008 TC3 pode muito bem ser uma relíquia dessa época. Um naco de um dos primeiros corpos que orbitaram o Sol, contendo diamantes que se formaram no interior desse ancião esquecido há mais de 4,5 bilhões de anos. “O que nós temos em mãos”, afirmou em comunicado o astrônomo Philippe Gillet, do Instituto Federal de Lausanne, na Suíça, “é um resquício dessa primeira geração de planetas, que já desapareceram ou foram incorporados a outros astros, maiores.”

De acordo com o The Guardian, uma equipe composta por colegas de Gillet e pesquisadores japoneses já havia sugerido, em 2015, que diamantes grandes como os trazidos por Almahata Sitta não poderiam ter sido formados por colisões triviais no vácuo – algum fenômeno mais duradouro, capaz de exercer pressão por períodos mais longos, provavelmente estava em jogo. A hipótese de que na verdade eles fossem simplesmente resultado da pressão do interior de um planeta semelhante à Terra veio à tona, mas não havia nada para apoiá-la.

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Agora há: no interior dos diamantes foram encontrados traços minúsculos de um composto de ferro e enxofre que só se forma quando os elementos se encontram a 20 gigapascais – um pressão equivalente a de 10 milhões de elefantes africanos da savana empilhados na cabeça de um ser humano. Um valor absurdamente alto aqui na superfície, mas brincadeira de criança quando toda a rocha que forma algo do tamanho de Mercúrio ou Marte está apoiada sobre você.

James Wittke, especialista de meteoritos da Universidade do Norte do Arizona, não participou do estudo, mas afirmou ao jornal britânico que ele é promissor. “Nós acreditamos que provavelmente havia muitos corpos grandes no Sistema Solar jovem que foram ‘pais’ dos que existem hoje. Um do tamanho de Mercúrio é bem razoável, do tamanho de Marte, um pouco surpreendente. Seja como for, o paper apresenta as melhores – e talvez as únicas – evidências que temos para determinar o tamanho desses astros.”

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