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Peixe se reconhece no espelho pela primeira vez

Animal da espécie bodião-limpador, com cerca de 10 cm de comprimento, reagiu à própria imagem em teste de laboratório

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 12 set 2018, 18h31 - Publicado em 12 set 2018, 17h41

Na primeira infância, nem os seres humanos se reconhecem no espelho (só conseguimos fazer isso aos 18 meses de idade, em média). A capacidade de ver o reflexo da sua imagem e saber que é você mesmo é algo raro no reino animal. Só algumas espécies particularmente inteligentes, como orangotangos e golfinhos, compartilham essa habilidade com os humanos. Mas, agora, há mais um membro neste seleto grupo: o bodião-limpador.

Esse é um peixinho de cerca de 10 centímetros, que vive nos recifes quentes e rasos do Indo-Pacífico. Seu papel está no seu nome, limpar: o bichinho participa de diversas relações mutualísticas (em que os dois participantes se beneficiam), capturando restos de pele morta, muco e parasitas de peixes maiores. Enquanto ele usa isso tudo como alimento, o recife fica mais limpo e os outros peixes livres de suas pragas.

O bodião-limpador sempre foi reconhecido como inteligente, comparado com seus colegas de barbatana. Agora, uma experiência revelou que ele é o primeiro peixe capaz de identificar a própria imagem.

Aprovação no “teste do espelho”

Para saber se o bodião-limpador era capaz de se reconhecer, os cientistas realizaram com ele o famoso “teste do espelho”. Esse teste já foi feito com diversos animais. Macacos, golfinhos e elefantes já foram aprovados no experimento. E, agora, foi a vez do peixinho.

No teste, os cientistas pegaram 10 bodiões-limpadores e colocaram cada um em um tanque individual, equipado com um espelho. A princípio, os peixes reagiram agressivamente em relação aos seus reflexos, aparentemente associando a imagem a um rival. Normal, era o resultado esperado.

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Mas, de repente, esse comportamento deu lugar a algo mais interessante. O peixe começou a agir de maneira estranha, aproximando-se de seu reflexo de cabeça para baixo ou correndo em direção ao espelho rapidamente, apenas para parar imediatamente antes de tocá-lo. Nessa fase, dizem os pesquisadores, os bodiões estavam interagindo diretamente com seus reflexos, e começando a entender que estavam olhando para si mesmos e não para outros peixes.

Quando os bichinhos estavam familiarizados com os espelhos, os pesquisadores injetaram um gel marrom (e inofensivo) sob a pele de oito deles. Quando o peixe via seu reflexo – e os pontos em sua pele – ele começava a tentar raspá-los nas superfícies ao redor, provavelmente identificando as marcas como sinais de alguma doença.

Algumas dessas injeções foram aplicadas na garganta, ponto do corpo que o peixe normalmente não enxerga. O bodião não fazia nada: afinal, ele não estava vendo a mancha. Porém, quando os cientistas colocavam um espelho em frente ao animal – e, portanto, o bichinho podia ver o ponto em sua garganta-, ele começava a raspá-la nas paredes do aquário. Isso prova que ele reconhecia o reflexo como seu próprio corpo.

O peixinho faxineiro mostrar todos esses resultados é algo novo e surpreendente para a ciência. Ele está desafiando a ideia de que a autoconsciência está presente somente numa elite de mamíferos e pássaros, dotados de sangue quente.

Mas uma quebra de paradigmas similar já aconteceu antes. Em 2001, o estudo que aprovou os golfinhos do teste do espelho foi igualmente revolucionário. Alguns cientistas ainda estão relutantes em aceitar que o peixinho, de fato, tenha se reconhecido. Mas, até que se prove o contrário, o bodião-limpador se mostra como um dos peixes mais inteligentes da imensidão azul.

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