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Pesquisadores flagram peixe elétrico de 2 m caçando em grupo na Amazônia

Os poraquês do rio Iriri, no Pará, se juntam em bandos de 2 a 10 para eletrocutar o almoço. É um comportamento raro na natureza.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 15 jan 2021, 19h34 - Publicado em 15 jan 2021, 19h10

Um poraquê por si só já seria capaz de assustar suas vítimas – afinal, esse peixe elétrico amazônico pode chegar aos 2 m de comprimento e pesar até 20 kg. Mas parece que alguns destes animais perceberam que andar em bandos poderia ser ainda mais vantajoso na hora da caça, um comportamento que foi descrito pela primeira vez nesta quinta-feira (14), no periódico científico Ecology and Evolution.

Apesar do poraquê ser um animal conhecido há mais de 250 anos, o entendimento sobre ele ainda é limitado. Até 2019, pensava-se que havia apenas uma espécie do peixe, quando na verdade existem três. O artigo que diferencias as três, vale dizer, foi feito pelo mesmo grupo de pesquisadores que trabalharam no estudo divulgado agora. 

A espécie vista caçando em grupo no rio Iriri, no Pará, foi a Electrophorus voltai, conhecida por ter a descarga elétrica mais forte do mundo animal. São 860 volts – um tranco sete vezes mais intenso que o propiciado por uma tomada doméstica comum. Terror absoluto para suas presas, peixinhos minúsculos chamados de… piabas (tente não rir dessa simpatia de nome). 

A cena vai assim: um cardume de piabas está dando sopa na parte rasa do rio. Do nada, grupos de dois a dez poraquês aparecem, cercando os peixes menores. Com as vítimas encurraladas, os predadores começam a sessão cadeira elétrica. Os peixinhos tentam pular para fora da água, e pousam na boca de seus algozes. Almoço.

Várias enguias em um pequeno lago cercadas de troncos e plantas.
Poraquês nadam em bando nas margens do rio Iriri, que deságua no rio Xingu. (Douglas Bastos/Divulgação)

Douglas Bastos, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), já observou esse procedimento dezenas de vezes. Ele assistiu à caça em grupo pela primeira vez em 2012, mas só voltou ao local dois anos depois. Em 2014, não focou apenas em acompanhar a espécie no ambiente natural, como também pegou alguns exemplares para fazer a descrição do bicho – que seria publicada em 2019. 

A caça em grupo é extremamente rara em peixes, sendo mais comum em animais organizados socialmente, como os mamíferos. “Só o fato de encontrar os poraquês em grandes grupos já é excepcional. Descobrir depois que eles usam isso pra caçar é uma coisa extraordinária”, explica Douglas Bastos. 

David de Santana, pesquisador do Museu de História Natural do Instituto Smithsonian que também esteve envolvido no estudo, explica: “Hoje, nós conhecemos mais ou menos 1,7 milhões de animais, sendo 65 mil vertebrados. Dentro desse número, apenas dez espécies de peixes caçam em grupo. E o poraquê é o único que utiliza descargas intensas durante a atividade.”

Ainda não dá para afirmar que todos os E. voltai caçam em grupos. Ainda há muita pesquisa de campo pela frente. Os pesquisadores explicam que o método de caça destes animais do rio Iriri pode estar relacionada às condições específicas do local.

Estes poraquês vivem em locais confortáveis de água funda, escura e parada. Para comer, basta subir à margem, onde sempre há piabas em abundância. A vida simples, de pouco movimento e fácil acesso à alimentação, pode ter feito com que os animais que vivem por lá desenvolvessem essa estratégia. Não há garantia de que a solução funcione em outros habitats.

Há muitas outras questões em aberto: os indivíduos que protagonizam as caçadas são sempre os mesmos? Eles são todos membros de uma só família? Há um líder ou os peixes agem de maneira independente? Todas essas questões devem ser exploradas nos próximos passos da pesquisa. 

Os cientistas alertam para a importância de ampliar os estudos sobre este e outros animais amazônicos. “Sabe-se muito sobre a eletricidade do poraquê e como ela é produzida, mas não sabemos como ele vive, como ele caça, como ele se reproduz”, cita Bastos. De acordo com o pesquisador, precisamos estudar o bioma in loco para “conseguir conservar as espécies, sabendo exatamente do que elas precisam no ambiente natural”.

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Qualquer pessoa pode ajudar nos próximos passos do trabalho. Os pesquisadores lançaram o Projeto Poraquê, uma base online em que cidadãos comuns podem compartilhar imagens feitas do animal e seus comportamentos. Assim, os cientistas podem ir até o local registrado investigar os peixes de perto. O site conta ainda com informações sobre o artigo já publicado e outros dados sobre os poraquês. Para saber mais, clique aqui.  

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