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Por que os polvos fêmeas se matam após darem à luz? Este estudo oferece pistas

Os filhotes de polvos são destinados a serem órfãos desde cedo. E a explicação pode estar em um esteroide produzido no corpo da mãe.

Por Maria Clara Rossini
17 Maio 2022, 16h25

O tempo de vida dos polvos varia bastante. Algumas espécies vivem apenas seis meses. Já outras, como o Polvo Gigante do Pacífico, chega aos cinco anos de idade. Só que eles têm uma característica em comum: morrem pouco tempo após o nascimento dos filhotes. As funções vitais do pai vão se deteriorando depois do acasalamento, enquanto a mãe se obriga a ficar sem comer até morrer.

Pesquisadores da Universidade de Chicago e Universidade de Washington estudaram polvos da espécie Octopus bimaculoides, nativos do Oceano Pacífico, para entender como esse mecanismo ocorre nas fêmeas. Os resultados foram publicados no periódico Current Biology.

O processo funciona assim: algumas semanas após o acasalamento, a fêmea põe sua primeira e única ninhada de ovos. Ela fica próxima do ninho, protege os ovos contra predadores e bombeia água para mantê-los oxigenados. Quando os ovos estão próximos a rachar, a mãe para de se alimentar e começa a se mutilar, às vezes comendo partes do próprio corpo.

Já se sabia que as glândulas ópticas dos polvos (semelhantes à glândula pituitária em humanos) são responsáveis por esse comportamento nas fêmeas. Experimentos anteriores já haviam mostrado que, quando as glândulas são removidas, os polvos voltam a se alimentar e até acasalam novamente. A questão era descobrir como elas desencadeiam o comportamento suicida.

No novo estudo, os cientistas descrevem uma série de mecanismos bioquímicos que são desencadeados após o acasalamento. Um desses leva ao aumento de um composto chamado 7-desidrocolesterol (7-DHC). Segundo os autores, esse precursor do colesterol está envolvido em diversos artifícios, desde a flexibilidade das células até a produção de hormônios do estresse. Aparentemente, ele também é essencial para a última etapa do ciclo de vida do animal.

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Para chegar à conclusão, os pesquisadores compararam as glândulas ópticas de fêmeas que já haviam acasalado e as que nunca tinham acasalado. Além de provocar o aumento de progesterona (hormônio da gravidez), o acasalamento também induz a produção de uma enzima que converte colesterol em 7-DHC. Não se sabia que esse esteroide estava relacionado à semelparidade – ou seja, à estratégia de se reproduzir apenas uma vez antes de morrer.

Em humanos, existe uma síndrome genética chamada Smith-Lemli-Opitz, que resulta em concentrações elevadas de 7-DHC. Assim como nos polvos, elas também são tóxicas e podem levar a comportamentos autodestrutivos. “O paralelo mais importante aqui é que, tanto em humanos quanto em polvos, altos níveis de 7-DHC estão associados à letalidade e toxicidade”, disse o autor Z. Yan Wang em entrevista à revista New Scientist.

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