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Procura-se um buraco de 200 quilômetros

A cratera que se supõe ter liquidado os dinossauros, há 65 milhões de anos, pode estar parcialmente enterrada sob o solo e sob o mar, na América Central.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 30 set 1991, 22h00

Em 1978, uma equipe de engenheiros da companhia estatal de petróleo do México, Pemex, deu início a uma extensa pesquisa aérea ao largo da costa norte da província mexicana de Yucatán. Sua estratégia consistia em medir o fraco magnetismo do planeta—a mesma força que faz girar a agulha das bússolas. Eventuais anomalias no valor dessa força costumam indicar a presença de espessas rochas sedimentares, material depositado à superfície em outras eras e endurecido ao longo do tempo, geralmente com grandes incrustações de petróleo. A despeito de seu objetivo econômico, a expedição acabou topando com algo realmente extraordinário, do ponto de vista científico. 

A descoberta coube ao geofísico americano Glen Penfield, um dos membros da equipe.”Assim que vi os primeiro mapas geomagnéticos, percebi duas anomalias curiosamente simétricas, dispostas a leste e a oeste da rota de vôo. A cada dia, os distúrbios apareciam mais distantes entre si, de um lado e do outro do avião. Quando chegamos à costa, já se encontravam a nada menos de 120 quilômetros uma da outra.” Depois de alguns meses de trabalho, o quebra cabeça pôde ser decifrado. Estava claro que as anomalias desenhavam um gigantesco anel no solo, exatamente como se o avião voasse sobre uma cratera. A anomalia começou a ser percebida quando o aparelho cruzou sua extensa parede circular—daí a simetria dos sinais, que alcançariam o máximo afastamento entre si, na vizinhança do centro da cratera.

Mas essas paredes não podiam estar à superfície, pois o mapeamento estava sendo feito no mar. Também não se encontrava no leito marinho, como se pôde verificar sem dificuldade. O que se supõe agora é que a cratera esteja enterrada, porque sobre ela se acumularam sedimentos—lama carreada pela chuva ou poeira transportada pelo vento—durante milhões de anos. Penfield não pôde investigar o mistério de maneira conclusiva, mas imaginou que estava vendo uma das muitas crateras gigantes que, no passado, meteoritos e asteróides devem ter aberto na superfície da Terra, conforme se vê gravado na superfície da Lua, por exemplo.De fato, o cientista da Pemex pode ter encontrado os restos do asteróide que, supostamente, levou à extinção os dinossauros e inúmeras outras formas de vida, no final do período geológico designado Cretáceo. A cena é convincente: um asteróide, ou o núcleo de um cometa, medindo cerca de 8 quilômetros de diâmetro, penetrou na atmosfera com velocidade superior a 250 000 quilômetros por hora e enterrou-se nas rochas da superfície. 

O impacto, com a força de muitas bombas nucleares atirou toneladas de rochas derretidas e pulverizadas ao ar; as partículas mais finas desse material permaneceram em suspensão na atmosfera durante meses, acabando por enterrar todo o planeta sob um manto de escuridão.Em vista disso, cortou- se a principal fonte de energia da vida—o Sol. Plantas e animais morreram em massa, a ponto de algumas espécies desaparecerem, como foi o destino dos dinossauros. Os primeiros cientistas a pensar nessa possibilidade foram os americanos Luis e Walter Alvarez, pai e filho, ambos, então, na Universidade da Califórnia. Como sinal de que sua teoria estava correta, eles apontaram minúsculas esferas de irídio depositadas nas rochas em uma centena de pontos do planeta. Esse elemento é milhares de vezes mais abundante nos meteoritos do que na Terra, e é possível que os pontos onde se acumula tenham sido alvo de bombardeio cósmico no passado. Além disso, a forma das esferas é típica de material submetido a violenta compressão por impacto.O problema é que nem todas as supostas crateras têm a idade correta— 65 milhões de anos, época em que se nota o desaparecimento dos fósseis de dinossauros. Por outro lado, de acordo com o geólogo Robert Dietz, da Universidade do Arizona, não se encontraram ainda nem 10% das crateras que devem existir na Terra com mais de 10 quilômetros de diâmetro e idade inferior a 100 milhões de anos. 

Essa conclusão vem da contagem de crateras em outros corpos celestes, onde não há erosão, chuvas ou terremotos para esconder as marcas da violência cósmica no passado. Assim, a suspeita estrutura subterrânea encontrada por Penfield é a primeira que preenche todos os requisitos necessários para comprovar a hipótese dos Alvarez.Na revista americana Astronomy de julho deste ano, Dietz analisa em detalhes o que se sabe sobre o achado. A cratera, que tem mais de 170 quilômetros de diâmetro e 9 de profundidade, está enterrada 1000 metros sob o solo. Seu centro fica nas proximidades de um vilarejo, não muito distante da costa, de nome Chicxulub, palavra maia que, segundo Dietz, significa “rabo do diabo”. Metade da cratera está sob o mar, e a outra metade, sob a terra, uma planície baixa, semelhante ao cerrado e coberta de curiosos poços naturais, os cenotes, como são chamados no local. Trata-se de fraturas que acumulam água da chuva e, em conjunto com outras marcas geológicas, concentram-se, significativamente, sobre a área que, por meios magnéticos, havia sido identificada com as paredes da cratera.Geólogos que estudaram a região acreditam que os cenotes podem ser explicados pela maneira como a cratera acabou sendo soterrada. 

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A explicação é que, logo após o impacto, o rombo do asteróide teria a forma de um prato escavado no chão. Mais tarde, os sedimentos cobriram toda a superfície, transformando-se em rochas, mas restou um ponto frágil: a cobertura acima da boca do prato, que acabou cedendo, com o tempo. Isso fez com que as rochas se fraturassem exatamente no ponto de apoio disponível, a parede da cratera. Daí porque as rachaduras e cenotes da região se distribuiriam em semicírculo sobre a planície. Não há dúvida, portanto, de que as descobertas nas cercanias de Chicxulub são um candidato de peso ao título de alvo do asteróide letal.”Elas estão no local certo, têm o tamanho certo, a estrutura certa e a idade certa para ser a cratera procurada”, pondera Dietz. “Dificilmente a ciência pode chegar mais próximo da certeza”, emenda William Boyton, planetologista da Universidade do Arizona e assistente de Alan Hildebrand, o cientista que checou e confirmou com rigor detalhes do relato original de Penfield. Nem todos têm a mesma confiança. Mesmo porque, impactos cósmicos à parte, a extinção dos dinossauros pode ter tido outras causas, ainda desconhecidas. Seja como for, parece cada vez mais próximo do fim um quebra-cabeça que atormenta os cientistas há uma década.

 

 

 

 

Para saber mais:

A charada dos dinossauros

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(SUPER número 3, ano 1)

 

 

 

 

 

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