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Quase todos os animais azuis, na verdade, não são azuis

O que acontece é uma ilusão de ótica nas estruturas corporais desses seres. Pigmentos azulados, vale dizer, são raríssimos na natureza. Entenda.

Por Leo Caparroz
25 ago 2023, 17h32

Você sabe: a cor da nossa pele é definida pela melanina. Essa proteína (que também colore nossos cabelos e olhos), é produzida por células chamadas melanócitos. Quanto maior a produção de melanina, mais escuro o tom de pele de alguém.

A melanina é só um dos compostos que dá cor a animais e plantas. A clorofila deixa plantas verdes. Já os carotenóides são os responsáveis pelos pigmentos vermelhos, laranjas e amarelos que encontramos na natureza.

Existem pigmentos de várias cores – mas o azul é extremamente raro. Por isso, é seguro dizer que quase nenhum animal ou planta na natureza é realmente azul.

Pois é. Mesmo o que aparentam a cor azulada são, na verdade, uns farsantes. A borboleta que abre este texto é um exemplo. Ela parece azul – mas não há nenhum pigmento do tipo em suas células.

Vamos explicar. Esse fenômeno acontece graças a algo chamado “cores estruturais”, que são diferentes das cores adquiridas pela maioria dos animais. Nesse caso, estruturas especiais na superfície do corpo do organismo distorcem a luz para fazê-los parecerem azuis.

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As cores que vemos ao nosso redor são resultado da interação do objeto com a luz. Quando um raio de luz branca atinge uma superfície, uma parte das faixas do espectro será absorvida; outra parte será refletida. É essa última que chega aos nossos olhos, para depois ser processada pelo cérebro.

A clorofila das plantas absorve todas as cores do espectro da luz visível – menos o verde (e é por isso que enxergamos as folhas verdinhas). A mesma coisa para os carotenoides de uma joaninha – que absorvem tudo, exceto o vermelho. 

Ilusão de ótica

Sem a presença de um pigmento azul, o jeito para a maioria das espécies é apelar para a ilusão de ótica das cores estruturais.

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Vejamos um exemplo. Nas borboletas Morpho didius, as micro escamas de suas asas possuem pequenas estruturas parecidas com cones (imagem abaixo). Nessas “arvorezinhas”, os raios de luz se comportam de vários jeitos: parte é refletida, parte sofre refração (a mudança de meio de propagação; geralmente, a luz muda de direção e velocidade).

Para a maioria das cores, o resultado dessas refrações e reflexões cria ondas opostas. Resultado: uma vai cancelar a outra – e a cor não vai chegar até nós.

Contudo, as faixas do azul têm o comprimento de onda ideal para serem refletidas pelas escamas com fases iguais. Como ele é a única cor que recebemos, vemos a borboleta como azul.

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Captura de tela do vídeo
As ondas da luz passam por essas pequenas estruturas nas escamas das borboletas. Quando refletidas, algumas cores se cancelam, mas o azul sobrevive (Youtube, Why Is Blue So Rare In Nature?, Be Smart./Reprodução)

Algo similar acontece com pássaros que aparentam ser azuis (até com as araras-azuis). Suas penas têm pequenas estruturas, parecidas com uma piscina de bolinhas de queratina. Quando a luz incide sobre elas, todas as cores se espalham e se perdem na bagunça. A exceção, novamente, é o azul, que sai ileso.

Todos os animais da natureza que você enxerga como azuis estão, na verdade, usando algum truque físico para parecer azuis. Sapos, pássaros e até seus olhos azuis são, na verdade, consequência do espalhamento irregular das cores.

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Bom, quase todos. Há uma espécie de borboleta que, por enquanto, é considerada a única realmente azul. A Nessaea obrinus tem manchas azuis nas asas graças a um pigmento chamado pterobilina. Muito sobre essa coloração especial ainda é um mistério para especialistas.

Macho Obrinus Olivewing -Nessaea obrinus.
Um macho da espécie Nessaea obrinus. Um dos únivos animaus na natureza conhecido por ter pigmento azul. (Florida Museum, by Ryan G. Fessenden/Divulgação)
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