Que venha o futuro
Os cientistas, por mais que pensem alguns passos adiante, se pautam nas questões já existentes ao desenvolver soluções tecnológicas para o futuro.
Marcos Nogueira
A notícia da morte de Jonathan Harris, o doutor Smith de Perdidos no Espaço, chegou durante a preparação desta revista. Smith vivia no espaço com os Robinson, ainda que contra sua vontade. Ele ocupava seu tempo fugindo de alienígenas. E tinha a companhia de um robô inteligente para conversar – ou melhor, praguejar. Perdidos no Espaço foi produzido no final da década de 60, com a ação acontecendo no então distante ano de 1997. Ainda não descobrimos novos mundos, não viajamos pela galáxia, não há registro fidedigno de contato com extraterrestres e a inteligência dos robôs continua limitada. Mas temos computadores de bolso, o mundo inteiro se comunica pela internet, a ciência está próxima de decifrar o genoma humano e – ufa! – ninguém se veste como Smith ou a família Robinson. Qualquer tentativa de antever o futuro reflete os anseios e temores da época presente. Os cientistas, por mais que pensem alguns passos adiante, se pautam nas questões já existentes ao desenvolver soluções tecnológicas para o futuro.
E o presente da pesquisa científica é brilhante. Vivemos um momento de convergência de vários campos do conhecimento: a nanotecnologia revoluciona a computação, a computação permite a criação de robôs cada vez mais espertos, a robótica abre novas fronteiras para a exploração espacial, a tecnologia espacial ajuda a melhorar os meios de transporte dos mais simples terráqüeos. Nas próximas páginas, procuramos resumir o que as mentes mais geniais do mundo estão preparando para os anos que virão. Os prognósticos incluem ciborgues que se expressam por telepatia, robôs do tamanho de uma molécula para intervenções cirúrgicas nanoscópicas, ponte aérea São Paulo-Tóquio em duas horas. Haverá todas essas coisas? Bem provável, mas dificilmente elas serão do jeito que se imagina hoje. Podem ser muito mais espetaculares. O futuro, às vezes, traz surpresas positivas – lembrem-se do monstro gigantesco que a ficção dos anos 60 chamava de computador e que, hoje, come na palma da sua mão.