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Reflorestamento não é apenas sobre plantar mais árvores – é necessário um ecossistema inteiro

Pesquisadores argumentam que apenas a inserção de novas plantas não é suficiente para o reflorestamento e reforçam a importância de um ecossistema completo

Por Manuela Mourão
7 set 2024, 12h00

Desde os primórdios da agricultura, a expansão das áreas destinadas a plantações e pastagens tem sido uma prioridade humana – muitas vezes sem considerar as consequências ambientais. Nos últimos 300 anos, essa prática resultou na perda de 1,5 bilhão de hectares de floresta, uma área equivalente a quase dois Canadás. Diante dessa realidade, ecologistas concluíram que a simples ação de plantar mais árvores já não é suficiente para reverter o processo de degradação e promover um reflorestamento eficiente.

No Brasil, a Mata Atlântica, que originalmente cobria vastas extensões, agora representa apenas 24% de sua área original. Internacionalmente, dados do relatório State of Europe’s Forest 2020 (SoEF2020) indicam que apenas cerca de 2,2% da área florestal europeia original permanece verde. A destruição de florestas tem provocado uma série de problemas na natureza, como a perda de biodiversidade, desertificação e aumento do risco de inundações. 

A partir da Segunda Guerra Mundial, várias iniciativas de reflorestamento vêm sendo realizadas e só ganharam mais força desde o início do século XXI. A conscientização pública sobre os benefícios das árvores para mitigação das mudanças climáticas e captura de carbono tem levado a um aumento significativo na área de florestas plantadas, que subiu de 170 milhões de hectares em 1990 para 293 milhões de hectares em 2020. 

No entanto, muitas vezes, essas iniciativas são usadas como “maquiagem verde” por grandes instituições, para criar a aparência de responsabilidade ambiental enquanto mantêm altas pegadas de carbono. Sem uma pesquisa e uma implementação cuidadosa, o plantio de árvores pode, na verdade, prejudicar os ecossistemas.

Frequentemente, esse plantio é feito em monoculturas, ou seja, grandes áreas com apenas um tipo de árvore. Isso reduz a biodiversidade e pode tornar as florestas vulneráveis a doenças que afetam uma única espécie, podendo dizimar grandes áreas de uma vez. Além disso, árvores não nativas podem se tornar espécies invasoras, desestabilizando ecossistemas locais delicadamente equilibrados.

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No projeto “Treewilding“, o ecólogo microbiano Jake Robinson investiga como proteger as florestas existentes do desmatamento e restaurar aquelas que foram perdidas, reconhecendo que algum grau de desmatamento é inevitável, mas defende uma abordagem mais informada. “É crucial que os reguladores compreendam as complexas interações entre árvores, florestas, pessoas, animais e microrganismos”, diz.

Forrest Fleischman, especialista em políticas florestais e ambientais, participou do estudo ressaltando a importância dos povos indígenas para esse processo de regulação. 

Um exemplo usado foi o da floresta amazônica, um dos ecossistemas mais ricos do planeta, que está profundamente ligada aos povos indígenas que nela vivem. Os conhecimentos tradicionais e técnicas de cultivo dos povos nativos ajudam a manter a integridade ecológica da floresta, enquanto os recursos e serviços ambientais da Amazônia sustentam a vida e a cultura desses povos. 

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Fleischman sugere que, em vez de apenas plantar árvores, deveríamos “cultivá-las”. Isso envolve conhecer as espécies adequadas para cada área e entender suas conexões com a vida local. 

Robinson destaca projetos de restauração florestal que seguem essa abordagem. O “Great Green Wall”, por exemplo, busca criar um cinturão de árvores de quase 8.000 quilômetros ao longo do Deserto do Saara. Se bem-sucedido, pode impedir a expansão do deserto, melhorar a qualidade do solo e aumentar a produção de alimentos, além de capturar milhões de toneladas de carbono. No entanto, o financiamento é um desafio significativo para o projeto.

Outro exemplo é o “Gondwana Link” na Austrália Ocidental, que visa reduzir a perda de vegetação reconectando pequenos fragmentos de floresta em uma extensão de 1.000 quilômetros. Esse esforço ajuda espécies ameaçadas a sobreviver em áreas isoladas, melhora a diversidade genética e protege contra adversidades ambientais. Desde 2002, o projeto plantou 14.500 hectares.

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O ecólogo também explora o campo da eco-acústica, que usa os sons produzidos por organismos, como aves e morcegos, para entender a composição e as mudanças nos ecossistemas. Em colaboração com o especialista em bioacústica Carlos Abrahams, Robinson estuda a biodiversidade do solo para monitorar a restauração das florestas.

À medida que as florestas se regeneram, eles observaram um aumento no número de invertebrados no solo, criando uma “paisagem sonora subterrânea — uma orquestra oculta de vida”.

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