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Romeu, o sapo mais solitário do mundo, agora tem uma namorada

Graças a uma campanha de financiamento coletivo, o galã anfíbio encontrou uma parceira – pondo fim a uma espera de 10 anos

Por Guilherme Eler
Atualizado em 12 mar 2024, 11h29 - Publicado em 16 jan 2019, 17h53

Ser o último exemplar conhecido de uma espécie significa viver no centro das atenções: o mundo sabe que você existe e protege sua existência a todo custo – afinal, se algo acontecer contigo, já era. Mas isso não é suficiente para afastar a solidão. A vida boa em cativeiro pode durar anos, mas vai ser incompleta sem a chance de construir uma família e passar à frente seus genes.

Foi esse o dilema que Romeu enfrentou ao longo da última década. Tido como último sapo-aquático-de-sehuencas (Telmatobius yuracare) do planeta, ele foi capturado ainda filhote em 2008 por estar em uma área ameaçada de floresta. Desde então, nunca pôs as patas para fora de um centro de conservação na Bolívia.

É verdade que os funcionários do Museu Alcide d’Orbigny de História Natural, onde Romeu vivia, até tentaram ajudar, fazendo um perfil para o anfíbio solitário no site de relacionamentos Match.com. “Eu sou literalmente o último de minha espécie… é por isso que estou aqui – na esperança de encontrar meu par perfeito e, assim, salvar minha linhagem”, diz a descrição da conta.

Era uma brincadeira, claro, mas a iniciativa serviu para chamar atenção para a causa. Após uma campanha arrecadar US$ 25 mil em doações, enviadas de 32 países diferentes, foi possível financiar cientistas para uma expedição em florestas da Bolívia para, quem sabe, encontrar um amor verdadeiro para Romeu.

A busca era um tiro no escuro. Desde quando a espécie foi descrita, em 1998, e classificada como vulnerável à extinção em um relatório da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), em 2004, não se sabia quantos exemplares ainda restavam. A boa notícia é que a expedição aconteceu, teve sucesso e achou não um, mas cinco outros sapos-aquáticos-de-sehuencas. Dois deles, fêmeas em idade próxima à do galã Romeu.

A escolhida, como não poderia deixar de ser, foi batizada Julieta. E o Twitter oficial de Romeu, o sapo mais conectado em redes sociais que já se teve notícia, não perdeu tempo em comemorar o possível match.

Espera-se, agora, que o amor de Julieta de Romeu consiga salvar a espécie. Mas, assim como o casal criado por Shakespeare precisou enfrentar seu amor impossível, o par de anfíbios também terá que superar diferenças.

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Em entrevista à BBC, Teresa Camacho Badani, bióloga do Museu Alcide d’Orbigny de História Natural que liderou a Expedição Cupido, descreveu o macho como “muito calmo e relaxado”. “Ele está saudável, mas é meio tímido e lento. Julieta, porém, é o oposto. “Sua potencial parceira, por outro lado, tem uma personalidade um tanto diferente de seu (quem sabe) futuro esposo. Ela é muito ativa, costuma nadar e comer bastante – e, algumas vezes, tenta escapar”.

Segundo a ONG Global Wildlife, a população de sapos aquáticos naturais de Bolívia, Equador e Peru enfrentou uma queda significativa nos últimos anos. O problema teria origem na combinação de uma série de fatores: mudanças climáticas, degradação do habitat, poluição, introdução de espécies invasoras que consomem ovos dos anfíbios e, principalmente, uma doença mortal causada por um fungo: a quitridiomicose. Estima-se que ela tenha tirado do mapa, ou deixado ameaçadas de extinção, outras 200 espécies de anfíbios por todo o mundo. O fungo Batrachochytrium dendrobatidis provoca mudanças na pele dos animais, dificultando processos como a absorção de água e outros nutrientes.

Julieta e os outros sapos encontrados na expedição agora cumprem um período de quarentena, para garantir que não estejam contaminados com o tal fungo – e, assim, estraguem em definitivo as chances de Romeu de encontrar sua parceira. Depois disso, é só torcer para que o velho ditado valha também para anfíbios e os opostos, finalmente, se atraiam.

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