Marcelo Spina
Se dependesse dos defensores dos direitos dos animais, as embalagens de patê de foie gras seriam tarjadas como os maços de cigarro. “Atenção: patos e gansos sofrem torturas terríveis na preparação desse alimento.” E como sofrem. O foie gras – que, em francês, quer dizer “fígado gordo” e não pode faltar em um cardápio refinado – é, na verdade, um fígado doente, criado pela superalimentação forçada do ganso. Enfia-se na garganta da ave um cano de 40 centímetros e com a ajuda de uma bomba empurra-se para dentro do papo 1 quilo de comida. Normalmente, a ração é uma mistura de milho e banha. Quanto mais indigesta, melhor o sabor do patê. O ritual dura segundos, mas se repete por três semanas, três vezes ao dia. O animal fica confinado em um espaço mínimo para não desperdiçar calorias. Assim, enquanto um fígado saudável é vermelho e pesa perto de 100 gramas, o que vai virar foie gras adquire uma cor amarelada e lustrosa, e pode pesar até 1 quilo (só 300 gramas menos que um fígado humano). O negócio é cruel e lucrativo. A iguaria chega às mesas, no Brasil, por até 1 000 reais o quilo.
“A culinária tem um lado sádico”, afirma o chef paulistano Alex Atala. “Para conseguir sabores inusitados concebe pratos que, para serem feitos, causam sofrimento aos animais.” As organizações de proteção aos animais querem acabar com essa comilança. Enquanto não conseguem banir a produção do foie gras, apelam para a piedade do consumidor final. Argumentam que se as pessoas não comerem mais foie gras, os gansos e os patos poderão viver e morrer mais felizes. Eles continuariam sendo úteis na ornamentação dos lagos ou fornecendo penas para travesseiro. Ou até indo para a panela. Mas saudáveis e não doentes.
Para saber mais
https://www.wspa.org.uk/campaigns/foiegras/foiegras.html
Maiores produtores de foie gras (em toneladas)
França
13 100
Hungria
2 100
Bulgária
800
Israel
300
Polônia
150
Outros
350