Seu aparelho de ar-condicionado está deixando o planeta mais quente
Relatório da Agência Internacional de Energia denuncia esse paradoxo climático e alerta para a importância do uso de equipamentos mais eficientes
Sol, praia, calor. O Brasil é tipicamente conhecido por suas características tropicais. Apesar disso, pouca gente nega um bom ar-condicionado em dias quentes. No verão do ano passado, a venda desses aparelhos bateu recorde. Temos, atualmente, um total de 139 milhões de unidades funcionando. Mas não é só o brasileiro que ama um friozinho artificial — Estados Unidos e Japão detêm a maior parte dos exemplares mundiais. Porém, de acordo com um relatório divulgado pela Agência Internacional de Energia (IEA), um irônico paradoxo foi confirmado: o aumento na quantidade de aparelhos de ar-condicionado está deixando o mundo mais quente.
No mundo, a quantidade de ares-condicionados está concentrada em um pequeno número de países (nos EUA, 90% das residências possuem). Mas à medida que a renda aumenta e as populações crescem nas nações emergentes, especialmente em regiões quentes, o uso dos aparelhos se torna cada vez mais comum. E as estatísticas provam: o funcionamento de ares-condicionados e ventiladores já representa cerca de um quinto do total da eletricidade gasta em edifícios de todo o mundo — ou 10% do consumo global.
Os números ficam cada vez mais exorbitantes: hoje, temos cerca de 1,6 bilhão de aparelhos funcionando. Para 2050, a perspectiva é de impressionantes 5,6 bilhões. Considerando também o crescimento populacional, na metade do século teremos uma estimativa de um ar-condicionado para cada duas pessoas do mundo. E a demanda pelo uso de climatizadores vai mais que triplicar: eles consumirão a mesma quantidade de energia que China e Índia juntas.
Ok, você já entendeu que temos MUITOS ares-condicionados pelo mundo. Mas voltemos à questão principal: como eles estão tornando o planeta mais quente?
Para começar, a população usa “errado”. Os consumidores atuais não se preocupam em comprar aparelhos mais eficientes, que gastem menos energia. A competência média dos exemplares comprados hoje é menos da metade do que está normalmente disponível para venda, com cerca de ⅓ da tecnologia dos mais eficientes. Isso pode se converter no fator econômico: geralmente os mais baratos são mais simples.
Mas a questão crucial é, lógico, a influência que esses bilhões de aparelhos exercem na temperatura do planeta. As emissões de gases estufa liberados pelas usinas de carvão e gás natural ao gerar eletricidade para os ares-condicionados quase dobrariam — de 1,25 bilhão de toneladas em 2016 para 2,28 bilhões de toneladas em 2050. Essas emissões impactariam significamente o aquecimento global — o que aumentaria ainda mais a demanda por ar-condicionado.
Sim, é um ciclo vicioso. O conforto tem um preço, e ele é bem alto. E o relatório cita exemplos bem ilustrativos da situação: quanto mais aumenta a renda de uma família, cresce também o número de eletrodomésticos como geladeiras e televisores. Esses aparelhos geram calor, deixando o ambiente mais quente. Solução: comprar um ar-condicionado.
E a maioria dos ares-condicionados funcionam, em parte, “jogando” o ar quente para o lado de fora, também tornando a vizinhança mais quente. Segundo estimativas, o aparelho pode elevar a temperatura durante a noite em cerca de um grau Celsius em algumas cidades. Ou seja, se um número suficiente de vizinhos comprar um ar-condicionado, a temperatura da sua casa pode aumentar a ponto de você precisar fazer o mesmo.
Apesar do aparente caos cíclico sem solução, o relatório termina esperançoso. Ele fala sobre o “Cenário de Refrigeração Eficiente”, um caminho que se baseia numa forte ação política para limitar o uso de energia com a finalidade de resfriar os espaços. E, principalmente, fala sobre investir em aparelhos mais competentes. Essa simples atitude pode reduzir a demanda futura de energia pela metade — em comparação com as suposições feitas baseadas no consumo atual.
Também torna tudo mais barato: seguindo os padrões do Cenário de Refrigeração Eficiente, pode-se reduzir os custos de investimento, combustíveis e outros gastos gerados por essa indústria do frio em 3 trilhões de dólares até 2050.
E, por último, esse cenário reduziria as emissões de gases estufa pela metade. Ele está de acordo com os objetivos climáticos previstos no Acordo de Paris. Então lembre-se, pelo bem do futuro do planeta, quando for comprar um ar-condicionado, tenha certeza de que as especificações de eficiência são as melhores possíveis.