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Substância presente no espinafre pode causar doping, diz estudo

Atletas que receberam doses diárias de ecdisterona ficaram mais fortes. Para cientistas, composto deve entrar no rol de substâncias proibidas no esporte.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 26 jun 2019, 16h46 - Publicado em 26 jun 2019, 16h30

O marinheiro Popeye tinha razão: consumir quantidades absurdas de espinafre todos os dias pode fazer sua força aumentar consideravelmente. E o segredo para esse efeito está na ecdisterona, substância presente nas folhas verde-escuras do vegetal – principalmente quando estão cruas.

Foi o que provaram pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com cientistas de outras universidades da Europa. Durante dez semanas, eles testaram 46 atletas profissionais. O objetivo era entender se o composto poderia melhorar o desempenho em exercícios simples, como levantamento de peso, saltos e agachamentos.

No período, alguns voluntários receberam doses cavalares de ecdisterona. A quantidade presente nas duas pílulas diárias que eles ingeriam, segundo os cientistas, era a mesma que obteriam consumindo 4 kg de espinafre cru. Todo santo dia. Outros atletas do grupo tomaram comprimidos de placebo, sem efeito. Os participantes que usaram ecdisterona tiveram uma melhora significativa de rendimento. Esse aumento foi maior no quesito força: eles passaram a conseguir levantar cargas mais pesadas do que os outros.

Cientistas mediram o desempenho de cada um dos atletas no início da primeira semana e ao fim da décima semana de experimento. Enquanto o primeiro grupo, que recebeu ecdisterona, passou a levantar 9,5 kg mais peso do que no início dos testes, atletas que tomaram placebo só progrediram em 3,3 kg no mesmo exercício.

Segundo os pesquisadores, não foram encontrados efeitos colaterais – como prejuízos ao fígado e aos rins, por exemplo. Para que halterofilistas consigam pegar mais peso, basta incorporar uma dieta digna de marinheiro de desenho animado. Certo? Não é o que pensam os cientistas responsáveis pelo estudo.

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No artigo científico, publicado na revista Archives of Toxicology, eles defendem que a ecdisterona seja incluída no rol de substâncias proibidas pela Wada (Agência Mundial Antidoping). Isso porque o componente proporcionaria um efeito similar ao de esteróides anabolizantes.

Não que o consumo de espinafre, um vegetal, deva ser considerado doping para atletas de alto nível, longe disso. O problema é que, uma vez que a ecdisterona aumenta o desempenho dessa forma, atletas poderiam levar vantagem abusando de suplementos à base dessa substância – que, até hoje, não é detectada pelos testes anti-doping.

Ainda serão necessários mais estudos, que comprovem esses resultados, antes que a Wada faça qualquer alteração. Não é a primeira vez, no entanto, que a ecdisterona é associada a casos de doping no esporte. Um exemplo famoso vem da década de 1980, quando a substância supostamente teria favorecido atletas olímpicos soviéticos a alcançarem resultados melhores – o que ficou conhecido como “segredo russo”. Com o novo estudo, há uma prova clínica de que a prática de fato altera o desempenho, e não é apenas outro teste obscuro com cobaias de carne e osso a marcar a história do esporte. Não importa, porém, o nome que escolheram chamar: para os fãs de Popeye e Olívia Palito, essa vantagem nunca foi exatamente um segredo.

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