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Um instrutivo passeio ao paraíso das serpentes

O maior e mais famoso serpentário do mundo completa 90 anos, reabre seu museu, ganha novas exposições e merece uma visita.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h29 - Publicado em 31 jan 1991, 22h00

Uma fazenda de 73 hectares, bem no coração de São Paulo, cheia de cobras, aranhas, lagartos, escorpiões e ate jacarés, pode ser um bom passeio para um domingo de ócio e preguiça. Que digam os 500 000 visitantes que atravessam seus portões, todos os anos, boa parte dos quais estrangeiros, atraídos pela fama do maior centro de ofidismo do mundo. Estamos falando do Instituto Butantã, que este ano comemora 90 anos e se engalana como pode, com verbas escassas e raros investimentos, para festejar a data.

Ao nascer, o Butantã era apenas uma fazenda, de terra dura (daí o seu nome, em tupi-guarani). Três quartos de sua área foram cedidos, em 1945, para a Cidade Universitária; ainda assim, sobrou bastante terreno para que o centro de pesquisas conservasse sua condição de recanto aprazível, densamente arborizado. Se você passar por ali com disposição para ver e aprender, terá muito o que fazer – sobretudo se tiver acompanhado das crianças. Comece, naturalmente, pelo tanque e vitrinas ao ar livre, aonde os animais devidamente identificados, estão expostos. Terá ali, ainda, como atração extra parte das comemorações, um museu de rua, compostos de painéis espalhados pela alameda principal, mostrando a evolução da arquitetura paulistana século XX, pela história dos prédios do próprio Instituto. Programe-se, depois, para um belo passeio.

No final do mês estarão concluídas as reformas do Museu Biológico, um vasto salão de 600 metros quadrados, que abriga cerca de 300 animais vivos. Entre eles estão 40 espécies de cobras, vindas das mais diferentes partes do mundo. São 28 espécies brasileiras, seis africanas, muitas outras da Ásia e da Europa. Entre os destaques, uma surucucu de 3 metros, jibóias, sucuris, as exóticas najas indianas e um simpático berçário para os recém-nascidos.
Há, ainda, painéis didáticos, onde os animais “conversam” com os visitantes, para explicar o significado do nome da exposição a que assistem: “ Na natureza não existem vilões”. É bom saber: com a sua dedicação a esses bichos que a gente sempre considerou vilões, pois suas picas podem ser mortais, o Butantã tem sido um centro de defesa da natureza desde sua fundação, muito antes que isso se tornasse moda e preocupação de todos em toda parte.

Assim, durante sua passada pelo Museu Biológico, você terá oportunidade de assistir, cada meia hora, a vídeos sobre temas ecológicos, ou então perigosos assim, desde que com eles se tomem alguns cuidados. A essa altura, você já terá visto a exposição iconográfica sobre os dezessetes institutos de pesquisa do Estado de São Paulo. Se estiver interessado em conhecer mais a história do próprio Butantã, entre no Museu Histórico, uma réplica do primeiro laboratório utilizado pelo médico Vital Brasil, quando, chamado pelo diretos do Instituto cientista Adolfo Lutz, começou a preparar, ainda no século passado, os primeiros soros eficazes para salvar as vítimas de picadas de cobra. Você vai ver os equipamentos que ele utilizava, na virada do século, alguns bem sugestivos. Por exemplo a mesa revestida por lava vulcânica, para resistir aos muitos produtos químicos, muito dos quais altamente corrosivos, que ele utilizava nas suas experiências. Vai conhecer, também, o Hospital Vital Brasil, fundado em 1945, e que atende todos os anos cerca de 3 000 pessoas picadas por animais peçonhentos no Estado de São Paulo.

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Toda a infra-estrutura que atende a essas ocorrências estará longe dos seus olhos. Mas você ficará sabendo que o Butantã produz anualmente, além dos soros específicos para esses casos, 20 milhões de doses de dezesseis tipos diferentes de vacinas para tétano, difteria, febre tifóide, varíola e raiva. As vacinas que seus filhos tomaram quando pequenos – tríplice e BCG – muito provavelmente foram produzidas ali (embora a produção seja insuficiente do consumo nacional). Nos laboratórios, pesquisadores especializados estudam a fisiologia dos animais peçonhentos e as maneiras de tornar mais eficientes os soros e as vacinas. No caso das cobras, o Instituto depende das doações feitas por particulares.

Compreensivelmente, a maioria das pessoas que topa com uma cobra, no meio do mato trata de fugir. Os mais valentes tratam de matá-la. Lamentavelmente, só uma minoria bem esclarecida da importância de capturar o animal vivo, e mandá-lo para o Butantã. No ano passado, a seção de recebimento de animais obteve 4 747 doação desse tipo. Para que o veneno seja extraído, a cobra é adormecida com gás e o técnico tem dois minutos para fazer a operação em segurança.

Se você ficar muito entusiasmado com essa visita, poderá até interessar-se pelo simpósio “ A modernização do Estado de São Paulo os institutos de pesquisa” que será realizado no próximo dia 25. Vai saber muito mais de tudo quanto o Instituto já realizou e do quanto a falta de verbas e os baixos salários dos funcionários atrapalham, hoje, o desenvolvimento desses trabalhos. É claro que o Butantã não poderia ficar imune a essa crise que aflige todo o país – nem ele é capaz de produzir um soro eficaz conta esse mal. E quem sabe pode até achar um jeito de dar uma força para um estabelecimento que, sem dúvida, é motivo de orgulho para todos nós paulistas e brasileiros.

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