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Vírus do sarampo pode ter surgido 1500 anos antes do que se acreditava

A época coincide com a urbanização e o estabelecimento de grandes cidades – o que pode ter sido determinante para o surgimento da doença

Por Maria Clara Rossini
22 jun 2020, 18h41

A origem do vírus do sarampo é parecida com a do coronavírus e da maioria dos vírus que infectam humanos: inicialmente infectava apenas animais, até surgirem mutações oportunas que permitiram a ele “saltar” para a nossa espécie. No caso do morbilivírus, causador do sarampo, os hospedeiros iniciais eram bois e vacas. A pergunta que resta é: quando o salto aconteceu?

Um novo estudo publicado na revista Science aponta que o vírus do sarampo tenha derivado da peste bovina por volta do ano 528 a.C. Até então, acreditava-se que isso só tivesse acontecido por volta de 1100 a 1200 depois de cristo. 

O vírus causador do sarampo é o Measles morbillivirus (measles é o nome da doença em inglês). Ele possui um ancestral em comum com o Rinderpest morbillivirus, um vírus extinto que causava a peste bovina. A doença – que só afetava os animais – causava desidratação, febre e era quase sempre fatal. Os últimos casos da peste foram detectados em 2007, e em 2011 ela se tornou a segunda doença erradicada pelo homem, depois da varíola.

Em algum momento, duas linhagens desse mesmo ancestral acumularam diferenças o suficiente para serem consideradas duas espécies distintas – o Rinderpest e o Measles. O primeiro continuou infectando gado, enquanto o segundo passou a causar sarampo em humanos. O novo estudo usou sequenciamento genético para apontar que essa diferenciação data do século quinto antes de cristo.

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A descoberta só foi possível graças a um pulmão preservado em formol no Museu de História Médica de Berlim, na Alemanha. Ele pertenceu a uma criança de dois anos que morreu da doença em 1912. Os cientistas conseguiram extrair amostras do vírus e sequenciar seu genoma. Até então, o genoma sequenciado mais antigo do sarampo era de 1954.

Com essas informações genéticas, eles calculam a taxa de mutação do vírus, ou seja, o quanto e quão rápido ele muda ao longo do tempo. É possível comparar genomas de vírus mais recentes com vírus de anos anteriores, para perceber o que mudou. Quanto mais antigo é o genoma analisado, mais preciso é esse cálculo.

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A equipe criou esse modelo de evolução com base no vírus do sarampo de 1912, de 1960 e outras 127 amostras, coletadas principalmente depois dos anos 1990. Além disso, eles também compararam as amostras com o genoma do Rinderpest e do PPRV, um “primo” dele que causa a peste em cabras.

O resultado jogou o surgimento do Measles morbillivirus centenas de anos para trás. Segundo o estudo, a data exata em que o vírus passou a infectar humanos ainda é incerta, mas é possível que ele tenha passado a se espalhar na população a partir do ano 600 a.C. Não por acaso, foi por volta dessa época que os humanos passaram a se estabelecer em comunidades maiores – grandes o suficiente para sustentar um surto de sarampo.

Segundo os autores, o sarampo tende a desaparecer em populações com menos de 250 mil indivíduos – porque as pessoas ficam imunes ou morrem com a doença. Assim, o vírus não tem onde se alojar e acaba desaparecendo daquele grupo. Em comunidades maiores, no entanto, ele sobrevive devido ao nascimento constante de novos bebês, que ainda estão suscetíveis ao vírus.

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O início da urbanização, no entanto, seria o momento perfeito: as pessoas estavam em contato direto com animais como os bois, que já eram domesticados, e começavam a formar comunidades cada vez maiores. Nessa época, já existiam cidades com centenas de milhares de habitantes na China e Oriente Médio, como a cidade da Babilônia.

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