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ONU e OMS alegam que pandemias são resultado da destruição da natureza

As organizações pedem que líderes mundiais pensem em políticas públicas sustentáveis para evitar novas crises.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 18 jun 2020, 20h07 - Publicado em 18 jun 2020, 16h31

Na última quarta-feira (17), representantes da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) publicaram no jornal britânico The Guardian um artigo em que pediam aos líderes mundiais que criassem leis visando as questões ambientais.

Isso porque a crise da Covid-19 não foi a primeira que saiu de uma doença zoonótica (de origem animal) e, caso alguns hábitos não sejam mudados, ela também não será a última.

Os autores do artigo descrevem um exemplo. Em 1997, na Ásia, algumas florestas foram derrubadas para dar lugar às plantações de óleo de palma – aquele ingrediente que vai na Nutella e no Kit Kat. Morcegos frutíferos que viviam por ali acabaram tendo que buscar comida nas fazendas de porcos das redondezas. O morcego acabou transmitindo o vírus Nipah a porcos, que em seguida passaram humanos. Resultado: 105 mortes.

Um levantamento feito pela WWF sobre as diversas pandemias que acometeram o mundo descreveu os impactos sociais e econômicos de cada uma delas. A Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) matou 774 pessoas (9% dos infectados) em 2002, e deixou um prejuízo que eles estimaram em US$ 41,5 bilhões. A primeira onda de ebola, que durou de 2014 a 2016, somou mais de 11 mil mortes e um déficit de US$ 2,8 bilhões no PIB de cada país afetado (República Dominicana do Congo, Guiné, Serra Leoa e Libéria). 

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Até quinta-feira (18), já havia mais de 440 mil mortes causadas pelo novo coronavírus. A estimativa é que o impacto econômico fique entre US$ 2,4 trilhões e US$ 8,8 trilhões. Ainda não se sabe ao certo qual animal transmitiu a doença aos humanos, mas pesquisadores acreditam que o hospedeiro definitivo do vírus tenha sido o morcego. De toda forma, o comércio de animais selvagens está proibido na China.

Mas isso não impede a caça e a venda ilegal desses animais. Além disso, não basta falar sobre o consumo de animais exóticos, como morcegos e pangolins, e fechar os olhos para a pecuária. ONU, OMS e WWF explicam que o comportamento humano destrutivo está prejudicando nossa própria saúde, e isso tem sido ignorado por décadas.

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“Devemos abraçar uma recuperação justa, saudável e verde e dar início a uma transformação mais ampla em direção a um modelo que valoriza a natureza como base de uma sociedade saudável”, escrevem. “Não fazer isso e tentar poupar dinheiro negligenciando a proteção ambiental, os sistemas de saúde e as redes de segurança social, já provou ser uma economia falsa. A conta será paga muitas vezes.”

As organizações não recomendam apenas a diminuição do desmatamento e do comércio ilegal de animais selvagens, mas também incentivam uma recuperação que envolva agricultura sustentável e energia limpa.

Além disso, elas abordam a mudança nas dietas. Isso, claro, não significa a proibição do consumo de carne, mas sim uma maior diversidade nos pratos em conjunto com a criação sustentável de animais. As entidades solicitam, ainda, a implementação de espaços verdes nas cidades.

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Não é o que se vê no Brasil, você sabe. Em reunião ministerial do Supremo Tribunal Federal (STF), que ocorreu em 22 de abril, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que era preciso aproveitar o desvio da mídia, que estava focada na cobertura da pandemia, para desregulamentar leis de proteção ambiental. Em abril de 2020, o desmatamento da Amazônia foi o maior em 10 anos, aumentando 171% em comparação com o mesmo mês do ano passado. 

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