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Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

A megalomania de Putin

Não há futuro para a Rússia enquanto o czar de terno e gravata estiver no Kremlin.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 mar 2022, 10h08 - Publicado em 18 mar 2022, 09h37

Moscou é a Itu da Eurásia: tudo lá é grande. É o caso do Parque das Conquistas da Economia Nacional (VDNKh, na sigla em russo). São 4 milhões de km² (3 Ibirapueras) de nostalgia da União Soviética. Na entrada, um arco triunfal com a escultura de um casal de camponeses lá em cima, exibindo um fardo de trigo – um símbolo da era comunista. Ali pertinho, outro casal de pedra: dois operários. O homem ergue um martelo. A mulher, uma foice.

Lá no meio, o coração da coisa toda: 15 palácios em volta de um lago. Cada um dedicado a uma das 15 ex-repúblicas soviéticas: Ucrânia, Bielorrússia, Geórgia, Cazaquistão… O complexo foi inaugurado em 1939, no regime de Stálin. Ainda nos anos 1980, por conta da crise econômica dos últimos anos da União Soviética, os palácios converteram-se em armazéns caindo aos pedaços. Após o fim da URSS, em 1991, piorou.

Putin assumiria o poder em 1999, com a economia ainda mais arrebentada – cortesia do antecessor, o bufão Boris Yeltsin. O PIB russo não dava um terço do brasileiro.

Em 2007, eles já tinham um PIB equivalente ao nosso (situação que se manteve até aqui). Com as coisas voltando aos trilhos, uma das providências de Putin foi reformar severamente o VDNKh. Não para construir algo novo, mas para que ele ficasse com a mesma cara que tinha nos dias de glória soviética. Ficou.

Entrada do Parque das Conquistas da Economia Nacional.
Entrada do Parque das Conquistas da Economia Nacional. (Yulenochekk/Getty Images)
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Isso mostra um pouco como funciona a cabeça de Putin. Afinal, ele considera o fim da União Soviética “a maior catástrofe geopolítica do século 20”. Não se trata de uma ode ao comunismo, mas à grandiosidade. Não só da Rússia soviética, mas da anterior, a czarista.

Melhor teria sido para o mundo se Vladimir Putin mantivesse seus devaneios imperiais na forma de monumentos restaurados. Mas não. Decidiu entrar em modo Hitler e partir para campanhas de expansão territorial, da qual a invasão à Ucrânia é o capítulo mais recente – e aterrorizante.

A grande moeda das relações internacionais é a confiança. Putin mostrou-se indigno de tal deferência, e transformou seu país num pária. A Rússia está exilada, “cancelada”. Não tem mais acesso à maior parte de suas reservas internacionais e perdeu quase todas as empresas ocidentais que operavam, e geravam empregos, em seu território. Sim, a Europa segue comprando seu gás natural e seu petróleo. Mas por pura falta de alternativas – que vão surgir no médio prazo.

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O fato de Putin ter reduzido um país de 144 milhões de habitantes a uma condição marginal joga no lixo as conquistas econômicas de seu próprio governo, e bastaria para que ele fosse destronado caso a Rússia fosse uma democracia. Mas ela não é. Trata-se de uma autocracia na qual um czar de terno e gravata manipula as leis com o único objetivo de manter-se no poder pelo resto da vida. Que a população russa se inspire no exemplo de resistência dos ucranianos, e junte forças para lutar por um futuro menos sombrio. Um futuro sem Vladimir Putin.

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