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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

Como David Bowie levantou US$ 80 milhões negociando músicas no mercado financeiro.

“Ziggy Stardust”, “Alladin Sane”, “The Thin White Duke”. De todos os personagens que David Bowie criou, um é particularmente desconhecido: o “Wall Street Bond Trader”

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Atualizado em 10 jan 2022, 14h46 - Publicado em 11 jan 2016, 17h46

2002 VH1 Vogue Fashion Awards – Show

“Ziggy Stardust”, “Alladin Sane”, “The Thin White Duke”. De todos os personagens que David Bowie criou, um é particularmente desconhecido: o “Wall Street Bond Trader”. Esse não é um personagem oficial – nem extra oficial, pois quem o batizou não foi Bowie, mas este blog. O que esse alter ego tem de falso, porém, tem de bem sucedido. Sob a pele de um negociador de títulos do mercado financeiro, David Bowie levantou US$ 55 milhões em 1997 (US$ 80 milhões em dinheiro de hoje).

O que ele fez foi criar um fundo lastreado pelos direitos autorais de suas músicas. Você comprava, por exemplo, US$ 1.000 em “Títulos Bowie”, e recebia de volta a promessa de embolsar US$ 2.139 depois de 10 anos. Ou seja: eram títulos com vencimento em uma década que pagavam 7,9% ao ano de juros – o que dá 113% em dez anos, graças ao milagre multiplicador dos juros compostos.

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Bowie foi o primeiro músico a criar um produto para o mercado financeiro – uma amostra de que a capacidade de inovação do londrino não estava restrita ao mundo das artes.  Mas por que é que ele fez isso? Para levantar dinheiro barato. Era como se Bowie estivesse pegando um empréstimo a juros baixos, com vários credores ao mesmo tempo – exatamente como um governo faz quando lança títulos públicos, ou uma empresa quando emite títulos privados – mais conhecidos por aqui como “debêntures”. Bowie conseguiu US$ 55 milhões com suas debêntures. E foi pagando devagar e sempre, com o dinheiro de royalties que ia entrando. Os juros de 7,9% ao ano eram substancialmente menores do que o que ele conseguiria pegando US$ 55 milhões emprestados num banco, por exemplo.

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Eram baixos até para o mercado de debêntures, na verdade. Os títulos de 10 anos do governo americano, por exemplo, estavam pagando 6,6% ao ano em 1997. Os títulos públicos dos EUA, não custa lembrar, costumam ser a coisa do mercado financeiro que menos paga juros – porque o risco de inadimplência é zero. Se eu lanço debêntures deste blog, vou ter que prometer juros assombrosamente mais altos que os dos títulos do governo (brasileiro), já que o risco de eu dar calote lá na frente é bem maior que o de o governo fazê-lo (até por que o governo tem uma impressora de dinheiro em casa, e eu não).

Mas Bowie tinha, sim, sua impressora de dinheiro. Eram os royalties das músicas. No contrato da debênture, a garantia se restringia aos direitos autorais das canções lançadas entre 1967 e 1990. Mas tudo bem: eram justamente os discos de Bowie que mais vendiam. Por isso mesmo ele podia se dar ao luxo de pagar juros baixinhos.

Mesmo assim, a odisseia do camaleão no mercado financeiro teve seus percalços. Os downloads de MP3 ganharam o mundo na virada do século, com a disseminação do Napster, o avô do Pirate Bay. A pirataria espalhou-se mais rápido que ondas de rádio, praticamente extinguindo as vendas de CDs de uma década para a outra. Tudo isso enquanto as debêntures de Bowie ainda estavam no mercado. Ou seja: começava a surgir um risco de calote ali.

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Foi justamente o que a Moody’s achou. A mesma agência de risco (uma das) que rebaixou a nota de crédito do Brasil depreciou o Bowie também. A nota das debêntures do Camaleão caiu para BBB+, deixando as debêntures do Bowie na rabeira do grau de investimento.

Mas a Moody’s errou, olha só. A agência não levou tão em conta que Bowie tinha mais fontes de direitos autorais do que a mera venda de discos. A cessão de direitos para comerciais e filmes já davam conta. Tanto que Bowie pagou tudo bonitinho em 2007, quando os títulos venceram. E a torrente de royalties continua fluindo, agora para a família do músico. Por exemplo: toca “Starman” inteira no “Perdido em Marte”, e o filme lançado em 2015, 43 anos depois da música. Ou seja: as debêntures do Bowie continuariam sendo um bom negócio se ainda existissem. A beleza da obra dele, afinal, não tem prazo de vencimento.

Leia mais:

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