Como o analfabetismo econômico deixou a Venezuela sem papel higiênico
O governo da Venezuela ordenou a ocupação de uma fábrica de papel higiênico: a da Kimberly-Clark – aquela mesma marca americana que você vê em todo banheiro de rodoviária no Brasil. A Kimberly da Venezuela tinha fechado as portas. Maduro reabriu, nacionalizou a fábrica e pôs os operários para trabalhar. À primeira vista, parece um […]
O governo da Venezuela ordenou a ocupação de uma fábrica de papel higiênico: a da Kimberly-Clark – aquela mesma marca americana que você vê em todo banheiro de rodoviária no Brasil.
A Kimberly da Venezuela tinha fechado as portas. Maduro reabriu, nacionalizou a fábrica e pôs os operários para trabalhar. À primeira vista, parece um ato heroico, até.
Mas não. Claro que não: a Kimberly não fechou por ordens do FBI, mas porque não fazia mais sentido manter uma empresa funcionando no país. Tudo porque o governo Maduro já tinha transformado a moeda venezuelana em notas de banco imobiliário.
O lastro da moeda deles era o petróleo – responsável por 90% das exportações da Venezuela. Com o colapso no preço do barril, a entrada de dólares minguou. O governo continuou fabricando bolívares, a moeda local, a rodo para bancar suas contas, cada vez mais gordas (quanto mais o seu governo estatiza, mais ele gasta). Resultado: com muito bolívar e pouco dólar no mercado, o preço da moeda americana começou a tender ao infinito. Junto com o dólar, sobem todas as outras moedas, incluindo o real. E as empresas da Venezuela passaram a ter dificuldade para importar qualquer tipo de matéria prima.
Não é só isso. O excesso de moeda local na praça também levou a inflação ao infinito (ela está em 500% agora, e a previsão para 2017 é de 1600%). Para combater a inflação, o governo decidiu tabelar os preços no varejo. Parece ok, mas equivale a matar a vaca para acabar com o carrapato: se o preço da matéria-prima só aumenta lá atrás (e não dá para congelar preço de matéria prima importada, como a que vai no papel higiênico, ou no pão), acaba-se o mundo: ninguém produz mais nada. Até por isso nenhum país digno de ter uma bandeira congela preço mais – Brasil incluído.
Vale lembrar que, entre as tragédias venezuelanas, não há embargo: o maior parceiro comercial de Maduro segue sendo os americanos. Eles compram 40% de tudo o que a Venezuela exporta – e quem sempre saiu no lucro foi o governo bolivariano, que nunca experimentou um déficit comercial com os EUA.
O problema da Venezuela foi outro: analfabetismo econômico – a doença que mais mata no mundo.