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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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O “elo perdido” entre os povos asiáticos e os índios das Américas

DNA de um bebê de 11,5 mil anos revela antepassados comuns dos índios das Américas com populações que hoje vivem na China

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 mar 2019, 14h24 - Publicado em 18 jan 2018, 18h36

Lobos Guará são brasileiros, pinguins imperadores são da Antártida, seres humanos são da África. Todo o gênero Homo surgiu naquele continente. E a espécie da qual você faz parte, a Homo sapiens, também. Nossa linhagem se separou da do Homo erectus, nosso ancestral profundo, há pelo menos 800 mil anos. E entre 300 mil e 200 mil anos atrás ganhamos a cara, e o cérebro, que temos hoje.

Esse tapinha final da evolução provavelmente aconteceu no leste da África, onde hoje fica a Etiópia. Somos um bicho nativo de lá. Mas nunca fomos caseiros. Se você é uma daquelas pessoas que toparia entrar numa nave para Marte para viver o resto da sua vida lá, saiba que essa pulsão está inscrita a ferro nos seus genes: humanos adoram migrar.

Até há pouco tempo, achavam que os sapiens só tinham saído da África há coisa de 40 mil anos. Hoje se sabe que as nossas primeiras expedições para fora do continente materno aconteceram bem antes, há 120 mil, 130 mil anos. 80 mil anos atrás já tínhamos chegado na China. Um pouco depois, na Austrália – é que naquele tempo dava para andar até a Austrália – o nível do mar era bem mais baixo. Entre uma e outra onda migratória, tomamos também o controle da Europa.

Só faltava a América. O continente onde você está sentado agora passou mais tempo do que qualquer outro (fora a Antártida) sem jamais ter abrigado um Homo sapiens, ou qualquer outro grande primata. Faz algo entre 14 e 16 mil anos que os primeiros humanos chegaram por aqui. Eles eram sapiens que tinham migrado para a Ásia, e que foram indo cada vez mais para o leste. Depois de centenas de gerações chegaram onde hoje fica o Estreito de Bering, o pedaço de mar que separa o atual Alasca da Sibéria. Como na época também dava para atravessar a pé por ali, foi o que fizeram.

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O bebê é um “elo perdido” perfeito entre os asiáticos e os povos nativos das Américas

O que não se sabe direito até hoje é exatamente quando isso aconteceu – até porque os rastros arqueológicos que esse pessoal pode ter deixado acabaram cobertos pelo mar. Mas uma pesquisa recente ajuda a contar essa história melhor. Um grupo de geneticistas dinamarqueses e americanos analisou o DNA dos restos mortais de um bebê encontrado num sítio arqueológico do Alasca. Ele nasceu há 11,5 mil anos, em outras palavras, é um dos fósseis humanos mais antigos das Américas.

Os genes dele, então, poderiam trazer informações mais precisas sobre quem foram seus ancestrais. Como absolutamente todos os nativos do nosso continente descendem dos primeiros humanos que atravessaram o Estreito de Bering, isso também significa saber quem deu origem às populações indígenas da América do Sul. E como boa parte dos brasileiros vivos hoje carrega genes das populações indígenas da América do Sul (misturados com DNA dos outros humanos que aportaram por aqui do século 16 em diante), isso também significa saber mais sobre a ancestralidade de muita gente que você conhece – a começar, talvez, por você mesmo.

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Bom, a análise mostrou que o bebê do Alasca tem quase o mesmo DNA dos índios que habitam hoje a América do Norte. A graça aqui está no “quase”. A parte distinta do genoma dele remonta a populações que hoje vivem na China. Ou seja: o bebê é um “elo perdido” perfeito entre os asiáticos e os povos nativos das Américas.

A pesquisa mostrou que os ancestrais comuns entre os chineses de hoje e o bebê pré-histórico viveram há 36 mil anos. Cruzando esses dados com estudos genéticos feitos antes, concluíram que esses ancestrais distantes viveram na Sibéria. E concluíram que os genes do bebê fazem parte de um povo até então desconhecido, e agora batizados como “beringuenses” – ou seja, do Estreito de Bering, e que moravam ali antes de o lugar virar mar.

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Os beringuenses teriam dado origem aos índios da América do Norte há mais ou menos 20 mil anos. E esses Homo sapiens dariam origem a povos que hoje conhecemos como Navarros, Maias, Astecas, Incas, Ianomamis, Guaranis. Enfim: a todas a populações que já existiam por aqui bem antes de sujeitos como Colombo e Cabral darem as caras. A “descoberta da América”, afinal, aconteceu bem antes. Valeu, beringuenses.

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