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Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

Dólar a R$ 5, e rumo ao hexa. Por que está subindo tanto?

São dois fatores, em conjunto: juro baixo e, mais importante, um cenário de pânico global, com todo mundo fugindo para o dólar e para o ouro.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 5 set 2024, 09h09 - Publicado em 12 mar 2020, 14h42

Um amigo meu escreveu agora há pouco no grupo: “Achei 100 dólares no bolso. Vou aproveitar e comprar umas 20 empresas na semana que vem”.

De fato. De um ano para cá, o dólar subiu 30%. E de 12 DIAS para cá a bolsa caiu 30% (ops, agora 40%) – o valor de todas as ações das empresas listadas na B3 caiu mais de um terço. Mais um pouco e, com US$ 100, você compra a Petrobras, a Gol (que chegou a cair 40% só hoje) – e ainda contrata o Ronaldinho Gaúcho.

E por que a bolsa está caindo tanto?

O @FariaLimaElevat, gênio do humor financeiro no Twitter, escreveu uma vez algo assim: “Me ligaram perguntando por que é que a bolsa caiu. Eu disse: ‘Porque tem mais vendendo do que comprando’, eu disse. Ele respondeu: ‘Obrigado’”.

Essa piada do Faria Lima Elevator cabe bem aqui porque ajuda a explicar a subida do dólar. Dinheiro é uma mercadoria como outra qualquer. Sobe quando há pouca oferta e muita gente querendo comprar; e cai quando a oferta é alta e não tem tanta gente assim a fim.

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Se houver muita gente a fim de comprar reais, seja um gringo querendo investir no Tesouro Direto daqui (que só aceita reais), seja um gringo querendo picotar as notas para fazer confete, porque elas são coloridas, o real vai subir – e o dólar, a moeda internacional por natureza, que define o valor de todas as outras, vai cair. Você vai precisar de mais dólares, afinal, para comprar reais.

 O cenário agora, você sabe, é o inverso. Não há grande interesse por reais. Porque:

1) Porque os grandes investidores estão fugindo da bolsa. Eles vendem tudo a qualquer preço, por mais baixo que seja, amargam o prejuízo, pegam o que sobrou e compram dólar. Esse tipo de venda, no pânico, motiva mais vendas no pânico, o preço das ações cai mais. E o Ibovespa, que mapeia a variação das ações mais negociadas da bolsa vai despencando.

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Por que vendem no susto e compram em dólar? Porque não há muito mais o que fazer com dinheiro num cenário de recessão mundial – e de ausência esperança com o futuro da economia. Deixar na bolsa, à espera de uma recuperação, costuma ser melhor do que amargar o prejuízo. Boa parte desses “grandes investidores”, porém, são fundo de aposentadoria, que não podem se dar ao luxo de amargar perdas destrutivas – e há fundos com quase metade de sua grana investida em ações.

Nessas horas, todo mundo corre para trocar os tais investimentos em ações por moedas fortes (yene, euro, libra, franco suíço; mas principalmente dólar) e naquela coisa que não serve para nada, mas que todo mundo teima em achar que vale mais do que dinheiro: o ouro. Foi assim no Crash de 1929. Está sendo assim no Crash de 2020.

PS: houve quem achasse que o Bitcoin fosse um desses destinos em caso de derretimento das bolsas. Não foi. A criptomoeda despencou também.

2) Por último, e neste momento menos importante agora que o fator corona, o dólar Porque o nosso “Tesouro Direto” não está tão atraente. Estou usando o termo aqui como sinônimo de “título público” – o mecanismo pelo qual você empresta dinheiro para o governo e o governo te dá em troca um “título”, um contrato dizendo que vai te devolver aquela grana dali a um tempo pagando um juro tal.

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Como todo mundo também sabe, os juros básicos no Brasil caíram drasticamente, de 14,25% ao ano para 4,25% – e prometem cair mais. Dessa forma, ter dinheiro em reais, guardados na forma de títulos públicos, passa a não valer tanto a pena.

PS. Juro baixo em si não é problema. É solução. Mas num cenário que os grandes investidores decidem se resguardar sob o abrigo do ouro e das moedas fortes, moedas “não fortes”, como a nossa, passam a dar alergia em quem investe. A demanda por reais no mercado financeiro, então, cai. E o preço do dólar em reais sobe.

É isso. Vale lembrar que R$ 5 não é a maior taxa da história recente. Em outubro de 2002 o dólar chegou a R$ 3,95. R$ 3,95 de quase 20 anos atrás – dava para comprar 5 latinhas de Skol com a essa grana na época (https://webtudo.net/veja-os-precos-antigamente-em-panfletos-de-supermercados/). Atualizar essa cotação é fácil. Basta contabilizar a inflação do real e do dólar de lá para cá (porque, óbvio, a moeda americana também perde valor ao longo do tempo). Nisso, temos que aquela cotação equivale a R$ 7,68 de hoje. Ou seja: talvez ainda tenha um bom chão para o dólar subir. Rumo ao hexa. 

 

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