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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

Feliz 2016? Não: feliz “2015 S”

Até dois ou três réveillons ninguém falava em inflação. O assunto negativo em voga era a falta de infraestrutura no país, aquela que aumenta o “custo Brasil” e mantém nossa produtividade em níveis subsaarianos. Mas falar disso, no fundo, já era falar de inflação. O que lastreia a moeda de um país é a capacidade de […]

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 dez 2016, 09h49 - Publicado em 31 dez 2015, 10h54

2015-s-istock-sAté dois ou três réveillons ninguém falava em inflação. O assunto negativo em voga era a falta de infraestrutura no país, aquela que aumenta o “custo Brasil” e mantém nossa produtividade em níveis subsaarianos.

Mas falar disso, no fundo, já era falar de inflação. O que lastreia a moeda de um país é a capacidade de produção desse país. Se ela for alta, um governo pode injetar dinheiro quase à vontade. Até porque trata-se de uma manobra fácil: é só você, governante, cortar impostos de fábricas (vai sobrar mais no balanço para elas investirem), financiar moradia com dinheiro público, imprimir dinheiro e emprestar para os bancos a juros baixos (de modo que eles re-emprestem para os correntistas cobrando pouco), imprimir mais dinheiro e dar quase de graça, via BNDES, para as  empresas mais capazes de gerar empregos (o que coloca parte desse dinheiro novo direto no bolso dos empregados), dar dinheiro direto na mão de quem não tem acesso ao sistema bancário ou a empregos formais, de modo que eles também entrem na ciranda generalizada de estímulos à economia. Resumindo: é fácil. Tão fácil que o governo foi lá e fez tudo isso.

Só teve um problema: quando você injeta dinheiro no seu país e a produção não cresce, o que aumenta são os preços, já que passa a ter mais dinheiro circulando do que produtos que você pode comprar com esse dinheiro. Daí que veio a bolha imobiliária dos imóveis nas capitais, por exemplo (já que a produção de novos terrenos no planeta cessou há 4,5 bilhões de anos, quando a Terra terminou de se formar, a partir de um cinturão de asteroides que girava em volta de um Sol recém-nascido – ou, se você prefere uma explicação mais mitológica, no segundo dia da Criação, quando Deus mandou as águas do oceano primordial “se juntarem em um só lugar”, de modo que surgisse terra seca, e não construiu mais terrenos novos desde então, muito em Ipanema, nos Jardins ou nos belos arredores da Praça do Papa, em Belo Horizonte).

Não foi só os preços dos imóveis, lógico. A injeção de dinheiro sem contrapartida no aumento da produção fez todos os preços subirem, em todas as áreas. Primeiro, num ritmo de 5%, 6% ao ano – o dobro do aceitável em qualquer país desenvolvido. Depois, nesse de 10%, 11% – o dobro do que era aceitável aqui.

Mas o governo, qualquer governo, é como o Baiano, aquele traficante do primeiro Tropa de Elite: pode ser louco, mas não é burro. Tanto que os nossos líderes já tinham tomado uma providência para melhorar a produtividade do país: o Programa de Aceleração do Crescimento, financiado pela torrente de superávits advinda do boom das commodities.

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Só que uma hora o boom virou bolha. Os dólares que aportavam por aqui para comprar nosso minério de ferro, nosso petróleo e nossa soja foram minguando. Descobrimos que, sem esse dinheiro de fora, nossa economia não andava. Nisso, ficou nítido que o PAC e tudo o mais que bolaram para bombar nossa infra e aumentar a tal da produtividade tinha dado em água.

Por que deu em água? Um exemplo isolado tem a resposta embutida. Entre 2007 e 2014 o BNDES liberou US$ 1 bilhão por ano, em média, para a Odebrecht tocar obras de infraestrutura. Com um detalhe: esses bilhões foram todos para financiar obras no exterior: hidrelétricas no Peru, no Equador em Angola e na República Dominicana, gasoduto na Argentina, aeroporto no Moçambique, rodovias África adentro, além do glorioso Porto de Mariel, em Cuba.

Um desses bilhões foi quase todo para que a Odebrecht construísse metrô em Caracas, olha só – nossas capitais, afinal, já têm todas um transporte público vienense…

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Talvez tenha sido bom para esses países todos. Talvez nem tanto (quem fiscaliza pra valer se estradas na África e linhas de metrô na Venezuela estão ou não superfaturadas?). Já no Brasil a coisa só acelerou mesmo um crescimento: o da conta bancária dos chefes da empreiteira.

Esses bilhões jogados no lixo tinham um propósito: matar dois coelhos de uma vez. O primeiro coelho era o das doações de campanha. Como ensinou o ex-Petrobras, e atual Lava Jato, Paulo Roberto da Costa: “Não existe doação de campanha. Nenhuma empresa vai doar 3, 4, 5 milhões porque gosta de Fulano de Tal. Ela está emprestando pro cara, e depois vai cobrar dele”. Liberar dinheiro a juros de mãe para empreiteira doadora fazer obra é uma forma consagrada de pagar esse tipo de dívida.

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Mas porque tanta obra lá fora? Aí que entra o outro coelho. O objetivo ali era ideológico: estreitar laços com a periferia do mundo, que o Brasil desejava liderar, formando um bloco capaz de fazer frente às alianças econômicas dos países desenvolvidos.

Não rolou. O maior efeito dessa política foi produzir ironia, na forma de piada pronta. O próprio Marcelo Odebrecht escreveu na Folha há dois anos: “Quanto mais Portos de Mariel, melhor para o Brasil”. Desnecessário comentar.

Hoje, justamente por conta de suas relações financeiras com a máquina do Estado, Marcelo precisa se desdobrar para usufruir de seus bilhões numa cela de presídio.

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Enquanto isso, esse mesmo governo diz, por vias tortas, que acredita na inocência de Marcelo, e na do bonde todo de bilionários e milionários presos, pois nossa chefe de Estado “não confia em delator”.

Ainda assim, ela pede para que acreditemos, nós mesmos, em outro conto de fadas:  seu compromisso de cortar gastos públicos e, ao mesmo tempo, fomentar o crescimento.

Ok, governo. Mas qual atitude vocês tomaram nessa linha? A última foi fritar o Ministro da Fazenda que se atreveu a fechar a torneira inflacionária do BNDES. E quem vocês colocaram no lugar? Justamente um dos artifíces da abertura desastrada dessas mesmas torneiras. Eterno retorno.

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E para a gente resta entrar em 2016 sabendo que não haverá um 2016, só um “2015 S” (usando a nomenclatura dos iPhones). Um 2015 S com upgrade na recessão, na inflação, na baderna – com ou sem Dilma no planalto, porque entra governo, sai governo, e os grandes usufrutários do dinheiro público continuam os mesmos. Mas existe um alento: 2015 foi o primeiro ano da nossa história em que boa parte desses beneficiados recebeu punições de fato. Que o nosso 2015 S também venha com um upgrade nessa área, e comece a pavimemtar o caminho para que logo tenhamos um Ano Novo realmente novo. Feliz 2017.

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