O que há de mais essencial na natureza humana
Nossos cérebros passam por mudanças físicas quando aprendemos algo. E é isso que garante o avanço das sociedades. Entenda.
Você não é a mesma pessoa que era no ano passado. E não me refiro aqui a uma abstração poética, mas a um fato. Tudo o que você é está encapsulado na massa de 1,5 quilo que forma o seu cérebro. São 86 bilhões de neurônios lá dentro – um número comparável à quantidade de árvores na Floresta Amazônica. Cada uma dessas árvores se conecta com outras 7 mil, formando um emaranhado de troca de sinais elétricos e substâncias químicas via trilhões de sinapses.
É desse emaranhado sináptico que emerge quem você é: suas memórias, seus amores, suas ambições; a forma como você entende o mundo. A cada experiência de vida, novas conexões nascem, outras morrem. E você muda.
Como bem definiu o neurocientista David Eagleman, em seu livro Cérebro em Ação: “Você é uma pessoa diferente do que era a esta mesma hora no ano passado, porque a tapeçaria gigantesca do seu cérebro teceu a si mesma e formou algo novo. Quando você aprende algo, seu cérebro passa por uma mudança física”.
Eagleman vai mais longe, e mostra como a plasticidade neuronal molda as sociedades humanas. O segredo é o seguinte: humanos são uma espécie que nasce com grande parte do cérebro incompleta. Um João de Barro sai do ovo sabendo fazer uma casa, porque já nasce com um curso de engenharia civil gravado em suas sinapses. Nosso cérebro não. “Ele convida o mundo a lhe dar forma – e é assim que absorvemos, sedentos, a língua de nossa localidade, suas culturas, modas, políticas, religiões e moralidades”, escreve Eagleman.
Detalhe: culturas, políticas e moralidades também são entidades plásticas. Elas se transformam conforme os nossos cérebros vão mudando de configuração. Como essas alterações rolam o tempo todo, uma hora o pensamento de um grupo, de um país, do planeta, vira a chave.
É o que tem acontecido. Graças a uma troca mais acelerada de novas informações e experiências, o pensamento coletivo mudou em poucos anos. Nos tornamos uma sociedade menos machista, menos homofóbica, menos racista. Claro que ainda há um caminho extenso até a formação de um mundo mais próximo do ideal, e que o parto desse mundo novo não vem sem dores (a começar pelo debate sobre os limites da liberdade de expressão). Mas o fato é que a sociedade não está parada. Segue tentando construir uma realidade mais justa, mais igualitária, a passos mais largos do que jamais se viu na história. E tudo graças ao que há de mais essencial na natureza humana: contar com um cérebro flexível, avesso à estagnação.
Até a próxima!