Covid pode afetar mais de 70% da placenta – e impedir transmissão de oxigênio para o feto
Estudo que analisou 68 mulheres de 12 países, incluindo o Brasil, revela perigo associado ao Sars-CoV-2 na gravidez; gestantes não haviam se vacinado contra a doença, que dobra o risco de perder o bebê
Estudo que analisou 68 mulheres de 12 países, incluindo o Brasil, revela perigo associado ao Sars-CoV-2 na gravidez; gestantes não haviam se vacinado contra a doença, que dobra risco de perder o bebê
Ter Covid durante a gravidez dobra o risco de perder o bebê: em uma análise realizada pelo CDC americano, 1,26% das gestantes com Covid perderam seus filhos, contra 0,65% das demais. Ou seja, o vírus nem sempre causa desfechos adversos na gravidez. Mas, quando ele faz isso, sua ação pode ser devastadora – e com um mecanismo especialmente cruel.
Um novo estudo publicado por cientistas de 12 países (no Brasil, a Fiocruz) analisou os casos de 68 gestantes que tiveram Covid e perderam seus bebês. Em 64 deles, a infecção interrompeu a gravidez (isso ocorreu, em média, após 30 semanas de gestação). Nos quatro casos restantes, a criança chegou a nascer, mas morreu dias depois.
Segundo os autores do estudo, as 68 grávidas não haviam se vacinado contra o Sars-CoV-2. Um ponto que chama a atenção é que nenhuma delas teve Covid severa, que exigisse ventilação mecânica ou internação em UTI – e, mesmo assim, a doença causou consequências fetais graves.
Ao contrário de outros vírus, que podem atacar diretamente o feto, o Sars-CoV-2 afeta a placenta (um órgão temporário que se forma durante a gestação e é responsável por fornecer nutrientes ao feto). Todas as 68 placentas analisadas testaram positivo para o Sars-CoV-2 e apresentaram danos causados pelo vírus, que afetou em média 77% do tecido placentário. “A extensão do dano placental é impressionante, e excede muito a destruição tipicamente vista com outros agentes virais”, afirma o estudo.
O dano mais comum, presente em 100% dos casos, foi a deposição anormal de fibrina, uma proteína que forma placas na placenta. “A fibrina obstrui a perfusão [passagem de sangue] normal e a troca de gases e nutrientes, resultando em isquemia e necrose”, relata o estudo. Ou seja: o feto é privado de oxigênio, e não sobrevive.
O coronavírus provocou intervilosite histiocítica, que é um acúmulo de histiócitos (células do sistema imunológico da mãe) em torno da membrana placentária, uma inflamação que também prejudica a passagem de nutrientes para o feto. É uma condição rara, que normalmente afeta menos de 0,5% das gestantes – mas, no estudo, foi detectada em 97% das placentas analisadas. O Sars-CoV-2 também causou danos vasculares, com tromboses e microhemorragias, às placentas de 37% das gestantes.
O Sars-CoV-2 ataca a placenta quando há viremia, ou seja, ele consegue passar das vias aéreas para a corrente sanguínea – e então alcançar vários outros órgãos (além da placenta, o vírus pode afetar o coração, os rins, o fígado e o intestino, entre outros).