“The Last of Us: Part I” é um remake espetacular. Mas deveria ser mais barato
Clássico de 2013 foi totalmente refeito para explorar o poder gráfico do PlayStation 5 - e o resultado talvez seja o melhor game de 2022. Mas, ao lançá-lo a preço cheio, a Sony está cometendo um erro
Clássico de 2013 foi totalmente refeito para explorar o poder gráfico do PlayStation 5 – e o resultado talvez seja o melhor game de 2022. Mas, ao lançá-lo a preço cheio, a Sony está cometendo um erro
“The Last of Us“, produzido pelo estúdio americano Naughty Dog e lançado pela Sony em 2013 para o PlayStation 3, é um dos games mais aclamados de todos os tempos, com mais de 30 prêmios internacionais. Um ano depois, em 2014, veio “The Last of Us Remastered”, uma versão para PlayStation 4 com gráficos melhorados. Agora, é a vez de “The Last of Us: Part I”, para o PlayStation 5, que será lançado nesta sexta.
É o mesmo game de 2013, com a mesma história: o mundo foi tomado por uma epidemia de cordyceps, fungo que infecta o cérebro e transforma suas vítimas em zumbis (curiosidade: ele existe na vida real, e altera o comportamento de formigas). Os protagonistas são Joel e Ellie, que têm de atravessar a cidade de Chicago para chegar a um hospital – o motivo disso, você descobre durante o jogo.
Na versão “Remastered”, de 2014, a Naughty Dog mudou a configuração gráfica do jogo, aproveitando a maior potência do PS4 para habilitar elementos e efeitos visuais que deixaram tudo bem mais bonito. Mas agora, em “Part I”, a mudança é muito mais profunda: o game foi refeito, com os cenários e os personagens redesenhados do zero – aparentemente, usando o mesmo engine (“motor” gráfico) do revolucionário “The Last of Us: Part II”, de 2020.
O resultado é excepcional, com um grande salto de qualidade gráfica. Veja alguns exemplos (em tela cheia, se possível):
Além dos gráficos refeitos, “Part I” também incorpora outros avanços do PS5, como a resposta háptica (quando chove, você sente as gotas batendo no controle) e os gatilhos adaptáveis – que ficam mais duros quando você usa arco e flecha. É ok, mas nada demais. Outros jogos, como “Call of Duty: Black Ops – Cold War” e o pioneiro “Astro’s Playroom”, exploram melhor esses recursos.
Já o áudio, que foi remixado para aproveitar a tecnologia de posicionamento Tempest 3D, do PlayStation 5, realmente impressiona. Você não ouve apenas a direção dos inimigos – consegue discernir, pelo som, até a distância em que eles estão. É o melhor uso da Tempest 3D desde “Returnal”, de 2021.
“The Last of Us: Part I” é um remake sensacional, que pega um clássico e o coloca em outro patamar – talvez o de melhor game de 2022 até agora. Mas há um porém. Ele está sendo lançado a preço cheio, o que nos EUA significa US$ 70 – no Brasil, R$ 350.
É caro demais. Especialmente considerando que a versão “Remastered”, a de 2014, está disponível gratuitamente para assinantes do novo serviço PlayStation Plus Extra – esse jogo está incluso no plano Essential, que custa R$ 34,90 mensais. Você pode assinar, pagar um mês e pronto: é tempo mais do que suficiente para terminar o game.
Percebeu o problema? Por melhor que seja o remake, é muito difícil justificar pagar 10 vezes mais por ele. “The Last of Us: Part I” deveria ser mais barato. Se ele fosse um título da Microsoft, para o Xbox, com certeza entraria de graça no serviço Game Pass.
Se a Sony fizesse o mesmo, incluindo o remake em seu serviço por assinatura, daria um belo impulso ao PS Plus. Ao lançar “Part I” a preço cheio, ela acaba criando uma armadilha para si mesma – pois limita as vendas do jogo, e também impede que ele entre no PS Plus num futuro próximo (pois quem pagou R$ 350 se sentiria lesado).
O PlayStation 5 está liderando a nova geração. O console continua tendo a melhor seleção de games exclusivos, e vendeu 21,8 milhões de unidades desde o lançamento, contra 16 milhões dos Xbox Series X/S (a escassez do Series X, que segue difícil de encontrar nas lojas, pode estar atrapalhando).
Ao mesmo tempo, a vantagem da Sony não é tão grande quanto parece. No ano de 2022, as vendas globais estão quase empatadas, com 4,8 milhões de PS5 contra 4,48 milhões de Xbox Series X/S. E a Microsoft, que já comprou mais de 20 produtoras de games, continua voraz: nos próximos meses deve concretizar a aquisição, por US$ 68 bilhões, da gigante Activision. Provavelmente, todos os jogos que a Microsoft produzir vão entrar de graça no Game Pass.
A Sony não é obrigada a agir da mesma forma. Mas seria bom, para ela mesma, liberar um ou outro grande lançamento no PS Plus – e “The Last of Us: Part I”, cujas versões anteriores já se pagaram e deram toneladas de lucro, é um exemplo perfeito. Mais do que boa vontade com os consumidores, fazer isso seria um investimento no futuro da própria empresa – e, acima de tudo, um gesto de bom senso.