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Bruno Garattoni Por Bruno Garattoni Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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‘Think tank’ ligado ao Pentágono faz simulação de guerra entre os EUA e a China

Conflito começa em 2027, com uma batalha pelo controle de Taiwan, envolve a Austrália e o Japão e tem pelo menos uma explosão nuclear; projeção do CNAS, que é financiado por gigantes do setor militar, foi exibida ontem na TV americana

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Atualizado em 16 Maio 2022, 17h20 - Publicado em 16 Maio 2022, 16h48
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  • Conflito começa em 2027, com uma batalha pelo controle de Taiwan, envolve a Austrália e o Japão e tem pelo menos uma explosão nuclear; projeção do CNAS, que é financiado por gigantes do setor militar, foi exibida ontem na TV americana 

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    “O Center for a New American Security, ou CNAS, formou duas equipes: a azul, representando os Estados Unidos, e a vermelha, representando a China.” Assim começa a reportagem exibida ontem pelo Meet the Press, um dos programas jornalísticos mais tradicionais e respeitados da TV americana, sobre uma eventual guerra entre as duas superpotências. 

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    “Qual lado venceria? A China poderia atacar o território dos EUA? Poderia haver uma guerra nuclear?”, pergunta o apresentador. A simulação é feita por dois grupos de analistas do CNAS, um think tank (centro de estudos) financiado pelo Pentágono e por fabricantes de equipamento militar, como as gigantes Raytheon, Lockheed Martin e Northrop Grumman. 

    A Raytheon e a Lockheed produzem os lança-mísseis Stinger e Javelin, que os EUA têm fornecido para a Ucrânia usar contra a Rússia – e a Northrop fabrica drones e outros equipamentos (e está contratando funcionários para suprir a demanda ucraniana). Elas têm interesse financeiro direto em conflitos militares envolvendo os EUA.

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    A guerra hipotética se passa em 2027, e começa com a aproximação de navios chineses da ilha de Taiwan – que, na vida real, é o grande ponto de tensão entre EUA e China. Na simulação, uma equipe de analistas do CNAS representa os Estados Unidos, e outra faz o papel de China. O “time azul”, americano, começa o jogo: “Nós queremos fazer uma última tentativa de desestimular [a invasão de Taiwan]“. 

    Isso acontece por meio de uma advertência, “privada e pública”, de que “haverá custos muito severos se eles [os chineses] forem adiante”. Em seguida, uma analista faz uma observação perturbadora: “A China meio que viu a nossa reação à [invasão da] Ucrânia. Nós queremos ter certeza de que estamos surpreendendo eles com a nossa reação aqui.” 

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    Ou seja: numa eventual invasão de Taiwan, os EUA reagiriam de forma diferente do que estão fazendo com a Ucrânia. Não enviariam armas para o país invadido, travando uma “guerra por procuração” (proxy war) como a da Ucrânia. O que fariam, então? Um ataque direto?

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    O vídeo corta para o time vermelho, que representa a China (mas tem apenas um integrante sino-americano). “Temos que acertar os americanos o mais forte possível no Pacífico, mantê-los fora da luta enquanto entramos em Taiwan”, propõe um analista. “Eu apoiaria um ataque nocauteador contra Guam”, diz outro, se referindo à base americana de Guam, mantida pelos EUA no mar das Filipinas. Seria um ataque de surpresa, como o de Pearl Harbor. 

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    Com isso, os dois países entram em guerra. A China também ataca bases dos EUA nas Ilhas Mariana, perto de Guam, e no Japão – que, por isso, é arrastado para o conflito.

    Os EUA respondem enviando bombardeiros para afundar navios chineses, e também iniciam uma batalha aérea: caças americanos (vindos de bases nas Filipinas) interceptam e atacam bombardeiros chineses que estavam a caminho de Taiwan. A primeira rodada da guerra termina aí – na avaliação do CNAS, empatada. 

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    Mapa que engloba China, Taiwan e Filipinas, com setas indicando movimentações da guerra em direção à Taiwan.
    Esquadrilha de bombadeiros chineses sendo interceptados, e abatidos, por caças americanos. (NBC News/Reprodução)

    Na segunda rodada, os americanos procuram “colocar o máximo possível de coisas na briga, o mais rápido possível”. A pedido dos EUA, a Austrália entra na guerra, formando um bloqueio naval contra a China – que responde atacando Darwin e Tindal, duas bases militares no país. Ao mesmo tempo, os chineses usam bombardeiros stealth (invisíveis ao radar) ou mísseis hipersônicos para atacar o Havaí.

    Então os americanos acionam sua frota de submarinos para “eliminar o que estiver no Estreito [de Taiwan]“. O objetivo é evidente: aniquilar a frota naval da China. Tropas chinesas desembarcam em Taipei, capital de Taiwan. Fim do segundo round.

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    A situação já é muito grave, mas fica pior. A China inicia a terceira rodada disparando mísseis contra o Alasca e San Diego, na Califórnia. E também explode uma bomba atômica. O artefato é acionado no Oceano Pacífico – “não sobre, mas perto de onde as forças americanas estão”, e em grande altitude (muito mais alto do que o normal). 

    Com isso, o efeito da explosão seria reduzido. A ideia é assustar os EUA, mostrando que os chineses estão dispostos a usar bombas atômicas, mas sem realizar um ataque nuclear de fato. Os EUA invadem Taiwan com tropas, pelo sul. A reportagem termina aí, sem mostrar o desfecho do conflito – que muito provavelmente incluiria uma resposta nuclear americana.  

    Mapa indicando movimentações da guerra. Vê-se China, Japão, Taiwan, Havaí, Austrália e região de Guam e Ilhas Marianas.
    Bases militares que seriam mobilizadas pelos EUA em batalha pelo controle de Taiwan. (NBC News/Reprodução)

    Em seguida há um debate, com a presença de um deputado do partido Republicano (ele diz que a resposta inicial dos EUA, na simulação, foi muito fraca) e uma deputada do partido Democrata, que pede ainda mais investimento militar. Em 2021, os Estados Unidos gastaram US$ 801 bilhões com suas Forças Armadas. Isso é mais do que China, Índia, Reino Unido, Rússia, França, Alemanha, Arábia Saudita, Japão e Coreia do Sul somados (US$ 777 bi). Esse dado é anterior à Guerra da Ucrânia – na qual os EUA pretendem gastar US$ 40 bilhões.

    As simulações estratégicas, ou wargaming, são uma prática comum nas Forças Armadas de diversos países. Fazem parte dos estudos militares normais. Mas não é usual abri-las para a imprensa – especialmente num momento em que EUA, Rússia e China têm trocado ameaças e a tensão geopolítica alcança seu maior nível desde a Guerra Fria.

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