Vacina da Johnson & Johnson pode precisar de segunda dose, diz estudo
Novas variantes do coronavírus reduzem o efeito do imunizante, cuja eficácia global pode ficar abaixo de 50% e exigir a aplicação de uma dose de reforço, afirma estudo da Universidade de Nova York; resultado conflita com dados da J&J, que mostram eficácia mantida
Novas variantes do coronavírus reduzem o efeito do imunizante, cuja eficácia global pode ficar abaixo de 50% e exigir a aplicação de uma dose de reforço, afirma estudo da Universidade de Nova York; resultado conflita com dados da J&J, que mostram eficácia mantida
A vacina da J&J, aplicada em dose única, é menos eficiente contra as variantes Beta, Lambda, Delta e Delta Plus do coronavírus – que são mais resistentes aos anticorpos gerados pela vacina, e podem reduzir a eficácia global dela a menos de 50%, patamar mínimo para que uma vacina seja aprovada. É o que diz um estudo publicado por cientistas da Universidade de Nova York, que avaliaram o efeito dos anticorpos produzidos pela vacina contra essas variantes do Sars-CoV-2.
No estudo, os pesquisadores coletaram sangue de pessoas que haviam sido imunizadas com a vacina da Pfizer, da Moderna ou da J&J (sempre com o regime completo, que é de duas doses para Pfizer e Moderna e uma para a Johnson). Em seguida, os anticorpos contidos no sangue foram testados contra “pseudovírus” – vírus montados em laboratório, reproduzindo com exatidão a proteína spike presente em cada variante do Sars-CoV-2.
Todas as vacinas tiveram alguma perda de potência: os anticorpos gerados por elas se mostraram menos eficientes na neutralização do coronavírus. Porém, nas vacinas de RNA (Pfizer e Moderna), essa redução foi pequena. Os anticorpos continuaram muito fortes, podendo ser diluídos até 600 vezes e mesmo assim neutralizar o vírus. Portanto, afirma-se que essas vacinas produziram um “titer” (concentração de anticorpos) de 600. É o suficiente para fornecer alta proteção – bem mais forte, inclusive, do que os anticorpos gerados naturalmente por quem teve Covid (titer médio de 346).
Já com a vacina da Johnson & Johnson, que usa a tecnologia de vetor viral, os resultados foram diferentes. Ela alcançou um titer muito mais baixo, entre 30 e 41. E é aí, segundo os cientistas da NYU, que está o problema. “Modelos preveem que uma proteção de 50% contra infecção é gerada por um titer que seja 20% do convalescente [de quem teve Covid]”. Isso significa um titer mínimo de 69 – e, no estudo, a vacina da J&J ficou bem abaixo desse nível.
A vacina continuaria protegendo contra Covid grave – pela projeção dos cientistas, um titer de 3% do convalescente (o que dá aproximadamente 10) já é suficiente para evitar quadros severos da doença. Mas ela não teria potência suficiente, contra as novas variantes, para alcançar 50% de eficácia global – que engloba também a prevenção de casos leves e assintomáticos de Covid. Vacinas que não atingem 50% nesse critério não são aprovadas pelas autoridades regulatórias.
O estudo sugere que a vacina da J&J seja complementada “com uma segunda imunização [dose], ou por um boost com uma das vacinas de RNA”. “Embora a vacinação de dose única tenha vantagens, o benefício conferido por uma segunda imunização pode bem valer a pena”. Durante o desenvolvimento da sua vacina, a Johnson & Johnson testou um regime de duas doses – e concluiu que a dose única já fornecia proteção suficiente. Mas isso foi em 2020, quando as variantes do coronavírus ainda não eram tão difundidas.
Os resultados da Universidade de Nova York conflitam com dados da própria Johnson & Johnson, que recentemente divulgou um estudo mostrando que sua vacina continua eficaz contra a variante Delta. O trabalho da Johnson leva em conta, também, a ação das células T – que complementam a ação dos anticorpos, e são uma peça fundamental do sistema imunológico (exploramos isso detalhadamente na reportagem de capa “Imunidade”, publicada em agosto de 2020).
Há uma grande diferença de escopo entre os dois estudos; portanto, é compreensível que eles tenham resultados distintos. Também vale destacar que ambos são testes de laboratório. Para chegar a uma conclusão definitiva, será preciso aguardar os dados de novos estudos clínicos, que irão avaliar a eficácia da J&J contra as novas variantes na vida real. Isso já foi feito com as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca (Oxford), que mantiveram a eficácia contra a variante Delta.
As vacinas da J&J, da AstraZeneca e também a Coronavac têm motivado especulações, e alguns estudos, sobre a possibilidade de aplicação de uma dose extra – seja do mesmo imunizante ou de uma vacina de RNA. Testes clínicos têm mostrado que isso gera mais anticorpos. Mas ainda não se sabe se, na prática, será de fato necessário.