Como os insetos dão pistas aos peritos na cena do crime
Embora a visão de larvas em um cadáver não seja agradável, elas podem revelar o tempo transcorrido desde a morte e substâncias tóxicas no corpo da vítima.
O colaborador desta semana é Guilherme Gomes, formado em ciências biológicas, mestre e doutor em Fisiologia Forense pela UNESP de Rio Claro. Fez pós-doutorado no Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP. É sócio-fundador da Predikta.
Um perito precisa obter informações sobre o passado de uma cena do crime, mas tem acesso apenas à situação pausada no presente. A única forma de voltar no tempo é perguntar a alguém presente na cena do crime. Na maioria das vezes, os insetos que circundam o cadáver são os únicos seres vivos que poderiam comunicar o que aconteceu.
Se os insetos falassem, quais seriam as perguntas que um perito faria a eles?
Um dos maiores desafios na cena do crime é descobrir o tempo transcorrido entre o crime e a chegada da perícia. Esse período é chamado de intervalo pós-morte (IPM). O IPM pode auxiliar no levantamento de suspeitos presentes no local. Se você souber o dia e a hora do assassinato, talvez possa usar outros meios para descobrir quem estava por perto – e assim elucidar o acontecido e prender o responsável.
Para os peritos descobrirem o IPM, um dos métodos é avaliar e classificar os diferentes insetos presentes no cadáver: larvas, moscas, besouros, vespas etc. Por meio da identificação das espécies e das quantidades em que elas aparecem, dá para ter uma boa noção do tempo que o corpo está se decompondo. Os insetos também podem dar dicas sobre a causa da morte e informar se alguém moveu o morto de lugar.
Também é interessante determinar qual foi o primeiro inseto a colonizar o cadáver, pois esse inseto veterano permite estimar o IPM com precisão. Moscas podem descobrir um cadáver e pôr ovos nele em meros 30 minutos após o ocorrido. Associando essa informação entomológica com outras características da decomposição, o perito pode obter o IPM com uma margem de erro de apenas algumas horas ou minutos.
Além de informações associadas ao IPM, a avaliação conjunta dos insetos presentes – combinada a dados de temperatura e umidade – pode auxiliar o perito a descobrir a causa exata de mortes associadas a drogas ou envenenamentos. Isso é possível porque essas substâncias podem acelerar, reduzir ou alterar o desenvolvimento dos insetos, mexendo com a fisiologia da larva ou do adulto.
Embora a visão de larvas em um cadáver seja nojenta, essas pequenas testemunhas fornecem tantas informações aos peritos iniciados que eles querem mais é encontrá-las na cena do crime para poder “conversar”.
Este é o oitavo post do blog Bzzzzz, em que pesquisadores membros do comitê científico da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (ABELHA) e outros cientistas colaboradores vão comentar a vida, os hábitos e a importância econômica de diversos insetos – além de nos atualizar sobre as mais recentes descobertas no campo desses pequenos artrópodes. Até a próxima!