Se existe uma coisa que as crianças aprendem desde cedo é a noção de posse. Elas também sabem muito bem o que NÃO podem possuir. Uma pesquisa recente liderada pela psicóloga Karen Neary, da Universidade de Waterloo, no Canadá, descobriu que crianças a partir de três anos tendem a pensar que coisas vindas da natureza, como folhas ou rochas, não têm dono – enquanto objetos feitos pelo homem são sempre possuídos por alguém.
No experimento, as crianças tiveram de olhar para fotos de garfos, ursinhos de pelúcia, caminhões e outros objetos feitos pelo homem, bem como para imagens de folhas, conchas e pedras. Então os pesquisadores lhes perguntaram se aqueles objetos pertenciam a alguém. 89% das crianças disseram “sim” para os objetos feitos pelo homem, mas só 28% disseram isso em relação a coisas da natureza. Em outro estudo, as crianças foram testadas com objetos menos familiares, como granadas e corais. Desta vez, os garotos com menos de seis anos tendiam a achar que a granada não pertencia a ninguém. Mas quando alguém lhes dizia que ela havia sido feita pelo homem, elas mudaram de ideia.
“Isso mostra que elas podem julgar se um objeto pertence a alguém ou não mesmo sem tê-lo visto ser usado por alguma pessoa”, diz o estudo. A granada, por exemplo. As crianças provavelmente nunca tinham visto alguém usando uma granada (diferente de um sapato ou um garfo) e mesmo assim acharam que ela tinha dono. Também caiu por terra a hipótese de que os pequenos classificam objetos com dono ou sem dono por categorias (“roupas pertencem a alguém, plantas não”). Se fosse assim, elas não poderiam classificar os objetos não-familiares.
A pesquisa foi além. Os resultados mostraram que os pequenos também levam em consideração alguns princípios mais complexos. Para elas, o fato de alguém ter feito um objeto estabelece uma relação de posse sobre ele. Essa capacidade impressiona, já que estamos falando de crianças de três a seis anos. Outro princípio usado por elas é a função de cada objeto. Coisas construídas pelo homem têm alguma função para servi-lo; se eles servem a alguém, então esse alguém é o seu dono. Já os objetos da natureza, como folhas e pinhas, geralmente não têm um uso definido, então não precisam pertencer a ninguém. Mas, segundo os pesquisadores, ainda é preciso investigar mais a fundo a forma como a natureza é entendida pelas crianças.
O trabalho foi publicado no jornal Developmental Psychology.